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Crítica

The End of The F***ing World - 1ª temporada | Crítica

Passeando entre o exagero surreal e a realidade cortante, série de humor sombrio é grata surpresa da Netflix em 2018

09.01.2018, às 15H00.
Atualizada em 12.01.2018, ÀS 04H04

Sem muito barulho, a primeira temporada The End of The F***ing World, produção britânica do Channel 4 - o mesmo das duas temporadas iniciais de Black Mirror -, estreou na Netflix em 5 de janeiro. Adaptação dos quadrinhos homônimos de Charles S. Forsman, a série de humor sombrio acompanha dois adolescentes extremamente disfuncionais por uma jornada pontuada por invasões a domicílio, roubos, assassinatos e tentativas de abuso sexual. Conforme a trama kafkiana avança, o espectador vai entendendo o background dos personagens e não apenas se afeiçoando a eles, mas torcendo para que eles consigam sair ilesos da avalanche caótica na qual estão há muito tempo - mesmo que um deles se defina como um psicopata e a outra seja alguém à primeira vista com transtorno de personalidade borderline.

Alex Lawther, que ganhou reconhecimento após interpretar o jovem Alan Turing em O Jogo da Imitação, vive James, um rapaz de 17 anos mergulhado em uma piscina de apatia e que acredita com convicção ser um psicopata - todas suas ações preliminares na trama são baseadas nessa crença. Ao seu lado está Jessica Barden no papel de Alyssa: a jovem acumula participações em filmes como The Lobster, Hanna e Lullaby, e, na série, vive uma adolescente com desejo irrefreável de fuga e compulsão de irritar todo mundo ao seu redor. James e Alyssa enxergam um no outro a conclusão de seus objetivos individuais: ela vê no rapaz a possibilidade de escapar da realidade na qual está presa e ele vê nela uma potencial primeira vítima fatal.

Há um aspecto curioso na construção dos personagens que regula a distância entre eles e o espectador na medida certa para garantir que haja tanto estranhamento quanto empatia. A personalidade de James e Alyssa é construída com base em dois ou três traços básicos, sob os quais se coloca uma lupa que torna a atuação em geral tão caricatural que obriga o espectador a enxergar os personagens de forma quase alegórica. Contudo, a linha entre o real e o surreal ao longo dos episódios é, propositalmente, muito tênue e, embora a atmosfera lynchiana paire o tempo todo, em alguns momentos os sofrimentos e dilemas encarados pelos protagonistas são tão sólidos que levam o espectador para o outro lado da tela sem dificuldade. Apesar de James e Alyssa passarem a maior parte da série sob a forma de personagens teatrais, há lapsos importantes em que eles se tornam tão reais quanto quem está assistindo.

É claro, há ainda uma questão indispensável em toda série protagonizada por adolescentes: a metamorfose. James e Alyssa são no oitavo e último episódio pessoas completamente diferentes do que eram no primeiro e isso é importante na hora de conferir valor à jornada dos dois. Ambos começam a trama temperados pela arrogância da adolescência, com certezas inabaláveis sobre suas próprias vidas - episódio a episódio elas vão sendo destruídas, geralmente através de experiências traumáticas. Essas experiências, por outro lado, não estão ali só como uma ponte, mas também para inserir novas problemáticas na vida já bastante conturbada da dupla protagonista. Até mesmo a conquista de determinados objetivos é envolta pela frustração e pela quebra de expectativas que fazem com que ambos amadureçam.

The End of The F***ing World é uma ótima surpresa da Netflix em 2018. A estética da série, ainda que não seja seu principal produto, é impecável, com leves pinceladas que deverão agradar fãs de nomes como David Lynch, Wes Anderson e Michel Gondry. Dramaturgicamente, a trama é bem executada: mesmo pontuada pela lógica do exagero, os argumentos iniciais são sólidos e o desenvolvimento da trama é bastante coerente. Os motivos pseudo-sombrios originais - a excentricidade de James e Alyssa - vão sendo sublimados por históricos familiares obscuros de verdade e experiências com potencial devastador. Conforme os protagonistas vão se tornando mais vulneráveis, e, paradoxalmente, mais fortes, mais o espectador é fisgado para a trama - com o gancho deixado na cena final, fica a expectativa para a segunda temporada.

Nota do Crítico
Ótimo
The End of the F**king World
Encerrada (2017-2019)
The End of the F**king World
Encerrada (2017-2019)

Criado por: Charlie Covell e Charles S. Forsman

Duração: 2 temporadas

Onde assistir:
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