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Crítica

Defensores | Crítica

Apesar de falhar na ação, crossover da Netflix funciona pela química entre protagonistas

19.08.2017, às 18H06.
Atualizada em 19.08.2017, ÀS 18H59

Quando decidiu tornar Defensores o seu primeiro grande crossover, a Netflix tinha alguns desafios. Encaixar a história de quatro personagens diferentes, fazer com que eles funcionassem juntos, ser maior e mais impactante que as séries solo, entre outros. Nem todos os objetivos são concretizados, mas boa parte deles são cumpridos e dão certo valor ao seriado. A iniciativa dos heróis urbanos da Marvel juntos tem um saldo positivo, apesar de carregar algumas das mazelas de outros produtos da parceria com a Netflix como diálogos e cenas de ação pouco inspirados.

A forma como une todos os personagens principais enaltece o bom trabalho de universo compartilhado feito nas outras séries. Tudo que aconteceu em Jessica Jones, Demolidor, Luke Cage e Punho de Ferro tem consequência na história de Defensores. Ao longo dos oito episódios, o roteiro consegue resgatar momentos cruciais de outros seriados para dar ainda mais contexto à ameaça principal: o Tentáculo. Nesse aspecto geral, o texto funciona bem, buscando soluções plausíveis e reviravoltas interessantes - tanto da parte dos heróis quanto dos vilões. Há peso nos dilemas de ambos os lados, o que faz o antagonismo de Alexandra (Sigourney Weaver) parecer verdadeiro.

Do lado dos heróis, a química existe, mesmo que os diálogos entre os quatro sejam quase sempre previsíveis. As boas atuações de Charlie Cox Kristen Ritter se destacam e a dupla se torna a melhor coisa do grupo. Um como o defensor mais perdido e perturbado, a outra como a heroína relutante e sarcástica. Luke e Danny atuam grande parte do tempo juntos e mostram que há algum potencial para uma série de Heróis de Aluguel, quadrinho famoso dos dois personagens. Apesar da mudança repentina de personalidade (de herói perdido e dramático para herói bem humorado e brincalhão), o Punho de Ferro funciona muito melhor aqui do que na série solo.

Muito disso se deve à importância que Defensores dá a Danny, já que ele é o elo principal com o Tentáculo. Em nenhum momento a real força do Punho é mostrada, mas ele se encaixa bem no quebra-cabeça que tem Elektra como peça mais importante. A vilã carrega o fan service em sua nova roupa e traz consigo a violência que é esperada de uma personagem tão bruta. Por outro lado, ela é mais uma a se prejudicar pelas cenas de ação mal coreografadas; assim como em Punho, Luke e Jessica. A situação não é triste como se viu em Punho de Ferro, mas não melhora tanto. O exagero nos movimentos e o pouco impacto que os golpes têm tornam cada luta uma dança cheia de acrobacias sem peso.

O visual da série tenta ambientar e transformar Nova York no quinto defensor, mas não tem tanto êxito. A fotografia usa cores diferentes para cada um dos heróis, mas esquece de explorar a cidade além das calçadas de Manhattan. Diferente de Luke Cage que, apesar dos pesares, caracterizou o Harlem e tem uma personalidade única, Defensores não é muito diferente de qualquer outra série que se passa na Big Apple. As transições com cortes rápidos do metrô também não ajudam, dando um ar de novela a algo que deveria ter uma narrativa mais natural e ágil, já que se passa num período pouco maior do que dez dias. Tecnicamente, Defensores não se destaca como Demolidor ou Cage, mas tem a seu favor uma boa linha de argumento para a união dos heróis, coadjuvantes e antagonistas.

Todos os personagens apresentados até aqui no universo Marvel/Netflix aparecem na série sem parecerem gratuitos. Pelo contrário, todos eles adicionam bons momentos e saem da história com mais bagagem para as novas temporadas solo. O que joga contra Defensores é a qualidade dos diálogos, que sempre luta para não parecer didático ou burocrático demais; especialmente as cenas do núcleo de Punho de Ferro e Luke Cage. Demolidor e Jessica Jones, como dito antes, se beneficiam pela atuação de Cox e Ritter, mas não conseguem elevar tanto o nível assim. O êxito vem mesmo com os quatro juntos conversando, de preferência, sem lutar. E mesmo que não faça sentido eles se questionarem da presença de magia e sobrenatural em um mundo que já conhece os Vingadores, os bate-papos do quarteto rende vários bons momentos.

Defensores é um conjunto dos acertos e erros da parceria Netflix/Marvel. O nível de grandeza das ameaças corresponde à realidade trazida pelos outros seriados e os quatro juntos funcionam bem - e em alguns casos até melhoram um personagem como Punho de Ferro, por exemplo. A história segue um bom conceito de união, traz bons vilões e uma trama concisa, mas escorrega nos diálogos e nas cenas de ação. Essas falhas fazem a série não se destacar como poderia, deixando-a atrás até de Demolidor, mas não chegam a estragar a experiência. A iniciativa de unir todos esses personagens deu certo e se ela servir como uma espécie de recomeço para uma nova fase destes heróis - levando em conta alguns defeitos primários cometidos nas histórias solo - melhor ainda. Assim, o futuro dos Defensores, unidos ou separados, pode ser ainda melhor.

Nota do Crítico
Bom

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