Séries e TV

Crítica

Friends from College - 1ª Temporada | Crítica

Com típicos personagens para amar odiar, série acerta na complexidade dos personagens e peca no exagero caricatural das atuações

21.07.2017, às 15H30.
Atualizada em 21.07.2017, ÀS 16H04

A Netflix conseguiu reunir um time interessante para sua nova comédia, Friends from College. Entre os seis protagonistas, estão Cobie Smulders, conhecida pela Robin de How I Met Your Mother, Fred Savage o eterno Kevin de Anos Incríveis e o comediante Keegan-Michael Key, por anos parte do MADtv. A trama gira em torno de um grupo de amigos que estudou junto em Harvard e que, já beirando os 40 anos, volta a conviver junto. A premissa da série dizia que o reencontro reacenderia questões mal resolvidas entre eles, como paixões e desentendimentos do passado, mas, na verdade, a série é basicamente sobre um grupo de pessoas que nunca permitiu que os vinte-e-poucos-anos ficassem para trás.

O primeiro motivo disso é que o  tal reencontro só é uma novidade para uma parte dos personagens - pelo menos metade deles, a mais crítica da série, nunca deixou de se ver. Ethan e Lisa, personagens de Smulders e Key, têm um relacionamento desde a faculdade e são casados. Paralelo a isso, Key sustenta um caso há 20 anos com Sam, interpretada por Annie Parisse, do mesmo grupo de amigos universitários. Os dois mantêm o relacionamento extraconjugal de forma muito pontual, já que vivem em cidades diferentes, mas as coisas mudam de figura quando Ethan e Lisa voltam para Nova York, fazendo com que os três voltem a conviver rotineiramente.

Sobre o desempenho de Cobie Smulders, é muito difícil evitar comparações entre seus trabalhos como Robin e como Lisa. A atriz volta a ser parte de um grupo de amigos e, principalmente, parte de um triângulo amoroso central envolvendo amigos - já vimos ela em uma dinâmica semelhante com Ted (Josh Radnor) e Barney (Neil Patrick Harris). Contudo, ainda que as semelhanças trabalhem contra Smulders na missão de mostrar outra faceta como atriz, sua personagem também tem inúmeros pontos de divergência em relação a seu trabalho televisivo anterior. Lisa tem a questão da busca pela maternidade e uma insegurança latente que garantem, de certa forma, autenticidade à personagem, ainda que ela seja uma das menos interessantes da trama.

Keegan-Michael Key e Fred Savage, o Max na série, por outro lado, mostram potencial para bons personagens, mas se perdem diversas vezes em sequências de exagero constrangedor. É muito fácil para o espectador se enxergar na pele de Felix, namorado de Max interpretado pelo ótimo Billy Eichner, que está sempre ligeiramente incomodado pela afetação infantilóide que toma conta do grupo quando ele se reúne. O Ethan de Key é propositalmente desenvolvido como um indivíduo irritante, marcado por atitudes egoístas - várias vezes ele joga a responsabilidade de seus atos em quem estiver mais perto -, mas sua atuação passa dos limites do verossímil algumas vezes. 

A dinâmica entre os dois atores é bacana do ponto de vista de dois adultos sedentos por sorver o máximo possível da nostalgia do grupo reunido de novo, mas acaba indo longe demais ao recorrer ao já saturado clichê do gay que mantém um interesse platônico reprimido pelo amigo hétero. Além desse arco desnecessário, os personagens de Key e Savage conseguiriam ser mais interessantes se fossem feitos alguns ajustes em suas intensidades. Em contrapartida, é interessante pontuar que Jae Suh Park e Nat Faxon conseguem conferir fluidez à excentricidade (que não é pouca) de seus personagens, respectivamente Marianne e Nick, sem permitir que eles soem mais caricaturais que o razoável.

É preciso força de vontade para ultrapassar os episódios iniciais - mas, passado esse primeiro momento estranho, é fácil se envolver com personagens justamente por ser muito fácil amar odiá-los, em diferentes intensidades. Eles são o tipo de grupo que é interessante observar de longe, mas que certamente pouca gente gostaria de ter muito perto. É curioso ver a Netflix investindo novamente nesse tipo de dinâmica, algo já visto na cancelada Girlboss. Sam, personagem de Parisse, traz muito disso - as cenas dela fazendo terapia, se recusando a encarar os óbvios problemas, são um retrato da essência do grupo de personagens.

Curiosamente, os criadores da série, Francesca DelbancoNicholas Stoller, esse último conhecido por dirigir as comédias Vizinhos 1 e 2, apostaram em fazer comédia não só sobre reencontros, mas sobre adultério. É difícil assistir cenas de traição sem julgar os personagens, mas não dá para desumanizá-los também em função disso. Há algo de complexidade em cada um dos personagens que faz com que a lógica maniqueísta não se aplique exatamente bem na hora de analisar a série. Temas como a frustração de não corresponder às expectativas geradas pelo diploma de Harvard e infelicidade no trabalho também são abordados de modo interessante pela trama. 

Friends from College segue por um caminho um tanto quanto irregular em sua primeira temporada, acertando tanto no drama quanto na comédia em vários momentos, inclusive - e principalmente - nos de transição entre uma coisa e a outra, mas errando em não saber dosar a intensidade de algumas situações. Nem de longe é uma série para todo mundo: os personagens podem ser intragáveis a ponto de irritar o espectador que não está acostumado a narrativas agridoces. Ainda que não seja excepcional, a nova produção da Netflix diverte e mostra potencial para, em um novo ano, se esforçar para conseguir acertar definitivamente. No mais, vale a pena pelas participações especiais dos ótimos Seth RogenKate McKinnon.

Nota do Crítico
Bom

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.