Carcereiros, nova série da Globo inspirada no livro homônimo do médico e escritor Drauzio Varella estreia em 8 de junho com a proposta de mostrar um ponto de vista das cadeias brasileiras pouco explorado no imaginário popular - o dos agentes penitenciários. José Eduardo Belmonte, diretor da atração, falou em entrevista exclusiva ao Omelete um pouco sobre como o programa mostrará a vida de indivíduos que trabalham constantemente sob pressão e em condições precárias.
Não é a primeira vez que Belmonte embarca em produções que falam sobre pessoas que trabalham em atividades envolvidas com a questão da criminalidade. O diretor esteve à frente do longa Alemão, que acompanha cinco policiais infiltrados no Complexo do Alemão. Ele contou que, apesar de ter voltado ao assunto, esse tema não esteve exatamente dentro da sua zona de conforto desde sempre.
"É uma questão complicada porque eu sou a pessoa mais pacífica do mundo, mas acho que o Brasil é um país violento por formação. Como alguém que busca ver o que a sociedade quer falar, acaba sendo um assunto que não dá para fugir. Eu de fato evitei durante muito tempo, pelo fato do grande tema do cinema nacional ser a violência e o abismo social. Eu comecei com outra temática, meu cinema era mais existencial e filosófico do que social. Só que eu vi que podemos olhar para aspectos sociais através de outra ótica e, é claro, foram assuntos que chegaram até mim inevitavelmente porque é impossível não ver o que está acontecendo ao nosso redor. Inclusive, eu vou fazer Alemão 2 em algum momento."
Carcereiros será protagonizada por Rodrigo Lombardi, que viverá Adriano, responsável pelo acesso às celas do presídio, mas avesso à violência. Originalmente, o papel seria interpretado por Domingos Montagner, mas, devido à sua morte prematura em um acidente no rio São Francisco, em setembro de 2016, a produção precisou recorrer a Lombardi - o que fez também com que a estreia da série fosse adiada.
Lombardi, conhecido por recorrentes papéis de galã, vem diversificando seu currículo na televisão nos últimos anos e, em Carcereiros, precisará exercitar uma nova faceta. Belmonte conta que, apesar disso, a escolha do ator não veio da intenção de derrubar algum tipo de paradigma sobre sua carreira. "Não era um fetiche para mim quebrar a imagem de galã, o que me interessou foi a capacidade que eu já tinha visto nele, que é também um ator buscando esse amadurecimento. Não foi uma busca por desconstruir o galã, mas é óbvio que essa estampa dele era importante porque o personagem é construído como o herói clássico e o galã também é o herói clássico. Ele quer ser correto e quer contaminar as pessoas com isso, mas está em um ambiente em que vai estar toda hora sendo confrontado."
Sobre a questão do ambiente no qual o personagem está inserido, o diretor diz que é um espaço que precisa ser discutido. Curiosamente, Carcereiros estreia um dia antes de Orange Is The New Black, produção da Netflix ambientada em um presídio feminino, que chega em sua quinta temporada em 9 de junho. Para Belmonte, o debate sobre a cadeia é uma questão cada vez mais imediata. "No caso do Brasil, nós temos a terceira maior população carcerária do planeta, é um sistema em um grande colapso, algo que está sendo sentido pelos brasileiros. Esse depósito de pessoas precisa ser repensado com urgência", disse.
Belmonte conta que conversou com Drauzio Varella para tirar dúvidas e receber feedbacks do roteiro. O diretor lembra ter considerado importante esse acesso à vivência de alguém que teve uma ligação tão próxima com quem é objeto da série. Os próprios carcereiros da vida real, inclusive, irão conferir realidade à trama, que trará ficção e realidade caminhando juntas através de depoimentos.
"Essa fronteira sempre me interessou, entre o que é representação e o que é real, meu primeiro longa era assim. Eu fui chamado um pouco por isso. Eu pude trabalhar com o documentário comentando a ficção, era interessante que esses comentários viessem dos próprios agentes. Ao longo da série eu fiz um pouco do que o Eduardo Coutinho fez em Jogo de Cena, que foi pegar atores para interpretar os depoimentos. Eu não procurei também fazer um artifício de linguagem tão complexo, é orgânica essa mistura. Em Alemão, por exemplo, é impossível reproduzir a realidade do tamanho que ela é. A mesma coisa, por exemplo, em uma rebelião, é muito mais interessante usar a força da imagem real."
Carcereiros tem direção de gênero de Guel Arraes, enquanto Belmonte cuida da direção geral. O roteiro é assinado por Marçal Aquino, Fernando Bonassi e Dennison Ramalho, com colaboração de Marcelo Starobinas. A série estará disponível no Globo Play a partir de 5 de junho, e será exibida na Globo em 2018.
