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Grey's Anatomy | Episódio 300 celebra o passado e reforça a importância de sua protagonista

Capítulo foi ao ar no último dia 9

Omelete
4 min de leitura
11.11.2017, às 11H53.
Atualizada em 11.11.2017, ÀS 13H04

Quando começou, 13 anos atrás, Grey's Anatomy apresentou ao público uma nova forma de acompanhar séries médicas: além do drama inerente, o seriado tinha doses de humor e assim como sugeria sua primeira abertura, dava uma grande atenção ao aspecto interpessoal da trama, uma vez que boa parte do conceito era focado em romances e desencontros. Como quase toda série com elenco grande, a protagonista fica com o papel de mover a trama, enquanto coadjuvantes são descritos de forma mais leve e vão conquistando o público por causa disso. Shonda Rhymes já devia saber que a complexidade de Meredith Grey (Ellen Pompeo) seria uma controvérsia inicial.

A filha da famosa doutora que agora agonizava uma doença degenerativa não chegou na série convencionalmente. Além de seu passado obscuro e da dificuldade de estabelecer laços, Meredith tinha uma profunda atração pelo sombrio, vivia cercada de mortes, perdas pessoais, pressões profissionais maiores que as de todos os outros e não era simpática ou divertida. Da perspectiva comercial, poderia parecer um tiro no pé, mas Shonda nunca desistiu de que o público entendesse Meredith em algum ponto, suas camadas e pesares, até que fosse possível apoiá-la justamente pelo que ela era. Diante do episódio 300 que foi ao ar na última semana, é seguro afirmar mais do que nunca que a força desse programa é o quão incrível pode ser destrinchar a anatomia de Grey.

300 Reasons Why

Começamos o episódio com Meredith e Alex conversando. Faz sentido, já que os dois são (junto com Webber e Bailey) os membros originais do grupo de personagens. O destaque também é importante porque eles foram residentes e assim que a edição corta para os atuais residentes no clássico corredor onde descansam, já somos informados que esse seria um episódio nostálgico, que chega até ao extremo de reproduzir personagens antigos em novos atores, numa brincadeira de espelhamento que continua em tudo que está em volta: transas nas salas de suplimentos, correrias de pelos corredores, pagers apitando, gente disputando cirurgias, música da abertura... É como ver um episódio dos tempos áureos do seriado, o que reforça a apatia do que estamos vendo agora.

O maior problema da série de uns tempos para cá é repetir constantemente o comportamento imbecil de alguns personagens. Os roteiristas têm o vício de fazer com que eles usem o trabalho como negação e fuga para tudo. Eles ignoram tumores, gravidez, tensões sexuais, assuntos de extrema importância e agora até premiações tão sonhadas, usando o trabalho como desculpa. Eles ignoram a necessidade de comunicação por 35 minutos, para então resolverem conversar nos 10 minutos finais. E é assim quase todo dia, há muito tempo. Por boa parte desse episódio 300 a postura de Meredith é enfadonha e desnecessária, mas seria bom ver alguém festejar e celebrar sem dramas ao menos uma vez.

Esses resquícios de um presente preguiçoso aparecem também na trama de Bailey, que foi pareada com um dos personagens mais sem carisma que já existiram no seriado. Vê-la se emocionar na cena com Baby O'Malley foi bonito, mas o texto logo arruma um jeito de voltar tudo para aquela história sem importância e que não tinha – de forma alguma – nenhuma ligação com o espírito de celebração. Essa necessidade de incluir Ben até quando ele não é necessário é quase patológica e completamente injustificada.

Entretanto, assim como fazia nos seus melhores tempos, Grey's Anatomy te desarma nos minutos finais e é difícil conter as lágrimas. Aquelas são pessoas que acompanhamos há mais de uma década e assim como acontece quando relembramos a felicidade dos tempos de outrora com nossos melhores amigos, as sequências da vitória de Meredith foram extremamente emocionantes. Naqueles minutos derradeiros, as presenças de Izzie, George e Christina nos aquecem o peito. As cenas escolhidas para relembrar Derek e principalmente Sloan foram pequenas e arrebatadoras. O diálogo entre Zola e Maggie soou perfeitamente ajustado e mesmo a breve menção a Lexie no ótimo discurso de Jackson, foi inspirada.

Contudo, nada foi tão forte quanto a troca de olhares entre Meredith e a mãe. Por conhecermos tão bem essa mulher, por termos visto de perto todas as suas perdas, por termos acompanhado todas as suas inseguranças é que somos capazes de sentir a importância daquele olhar. Aquela era a validação esperada e merecida e que representa o poder da personagem que Ellen Pompeo defende com tanto respeito há tantos anos. O episódio 300 da série não poderia ser sobre mais nada e mais ninguém, porque é Meredith quem garante a relevância dessas histórias. Ela, que foi tão rejeitada por suas complexidades, agora detém o controle da grande relação de amor entre fã e ficção. Todos aplaudiram ela lá e nós também aplaudimos aqui.

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