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Game of Thrones | Rei da Noite crava estaca no peito do público em empolgante penúltimo episódio

Capítulo eleva relação de Jon e Daenerys a outro nível em sucessão de ótimas cenas

20.08.2017, às 23H33.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H38

O penúltimo episódio da sétima temporada de Game of Thrones mostrou que a série não é para principiantes. Desde o começo, o espectador foi enganado pela falsa perspectiva de que a trama girava em torno da disputa pelo Trono de Ferro: faltando um episódio para a última - e curta - temporada,  “Beyond the Wall” revelou que esse tempo todo, os conflitos entre as casas foram desenvolvidos para mostrar que, mesmo diante das mais compelxas adversidades e convenções sociais, o instinto coletivo de sobrevivência prevalece. O episódio foi a conclusão de um processo onde, gradativamente, Game of Thrones mostrou que, ao invés de ser sobre conflitos movidos por características, anseios e jornadas individuais, é sobre a união perante a única característica compartilhada por todos: a humanidade.

Nunca foi uma surpresa que os White Walkers desempenhariam um papel fundamental na trama de George R.R. Martin - os monstros de olhos azuis já estavam na primeira cena do primeiro episódio. Antes mesmo do espectador conhecer Jon Snow (Kit Harington), Daenerys Targaryen (Emilia Clarke) ou quem quer que fosse, já havia a informação de que havia um problema sobre-humano na série. Porém, o público acabou sendo seduzido pelo empolgante e intrigante mundo de batalhas de cavaleiros e intrigas de corte que se desdobrou paralelo a isso. O bastardo que não é bastardo de Winterfell foi o primeiro a trabalhar para fazer tanto os demais personagens quanto o próprio público entender que a série nunca foi sobre quem sentará no Trono de Ferro, mas sim sobre a embriaguez pelo desejo de poder ser ou não capaz de impedir que pessoas deixassem suas ambições de lado e trabalhassem tanto na própria salvação quanto na dos inimigos.

A trajetória de Daenerys em “Beyond the Wall” e em toda a sétima temporada é um exemplo claro disso. A, até que se prove o contrário, última Targaryen se preparou durante parte da vida para um objetivo e, no começo do novo ano, começou a se aproximar dele. Daenerys, com uma família devastada e um número limitadíssimo de pessoas confiáveis ao seu redor, transformou a missão de reconquistar o trono usurpado de sua família em seu objetivo de vida. Quando Jon Snow introduziu a ela a questão dos White Walkers, ela manteve uma justificável resistência em abdicar de seus anseios para aceitar o imediatismo do problema. Daenerys precisou encarar o perigo nos olhos para entender que não faz diferença quem está no Trono de Ferro se há algo que potencialmente pode destruir todos que lutam por ele, sem distinção.

Para quem estava incomodado com a velocidade da temporada, que suprimiu tempo entre travessias e acelerou acontecimentos, o episódio pode não ter agradado. Mas, vale pontuar que, curiosamente, em termos de agilidade narrativa, essa é a temporada que mais se aproxima da primeira, responsável por fisgar milhões de pessoas para Westeros - só no primeiro capítulo de Game of Thrones, um homem vê um White Walker, foge e é executado por Ned Stark (Sean Bean); Robert Baratheon (Mark Addy) e a família chegam a Winterfell; Ned é incubido de ser a Mão do Rei e parte para Porto Real; Bran (Isaac Hempstead-Wright) é atirado do topo de uma torre por testemunhar o relacionamento incestuoso entre Cersei (Lena Headey) e Jaime Lannister (Nikolaj Coster Waldau), Catelyn (Michelle Fairley) descobre a armação em torno da morte de Jon Arryn e Daenerys casa com Khal Drogo (Jason Momoa). O ritmo vagaroso que a série assumiu depois de duas temporadas foi, inclusive, motivo recorrente de críticas - é difícil acreditar que alguém sinta falta de episódios em que as coisas avançavam homeopaticamente.

O que não quer dizer, é claro, que não existam problemas. Andar mais rápido é melhor que andar devagar quase parando, mas andar rápido demais pode atrapalhar que o público estabeleça conexões com pontos importantes da trama e deixe de aproveitar o potencial de algumas situações. Ao longo da temporada, momentos como a cura de Jorah Mormont (Iain Glen) ou o encontro de Jon e Theon (Alfie Owen-Allen) - aliás, cadê o Theon? - que acabaram sendo atropelados pela narrativa em volta. No último episódio, a série voltou a pisar no acelerador com a jornada de Jon e seu grupo no Além da Muralha. Em um prazo apertado, os guerreiros atravessaram a construção, foram encurralados, pediram socorro e foram atendidos por Daenerys. Se durante tanto tempo Westeros parecia um continente do tamanho da África, agora ele soa mais como o Reino Unido.

Mesmo com toda essa pressa, Game of Thrones brilhou, como de costume, em seu penúltimo episódio. A reunião de Jon, Tormund Giantsbane (Kristofer Hivju), Jorah Mormont, Gendry (Joe Dempsie), Sandor Clegane (Rory McCann), Beric Dondarrion (Richard Dormer), Thoros de Myr (Paul Kaye) e os demais homens da Irmandade Sem Bandeiras foi algo divertido como há tempos não se via na série. As interações entre Tormund e Clegane foram um respiro de descontração na trama e diálogos como o de Gendry frente à Irmandade Sem Bandeiras são exemplos de como Game of Thrones está amarrando pontas soltas e encerrando situações de forma rápida e eficiente. Mais que isso, foram cenas metalinguísticas sobre homens dos mais diferentes mundos, com vivências completamente distintas, trabalhando juntos e sendo eficientes nisso.

Ou melhor, quase eficientes. O grupo - ou o que sobreviveu dele, já que um urso zumbi encerrou a participação de Thoros na trama em uma cena espetacular - acabou cercado por um exército de mortos-vivos e Daenerys foi convocada para salvar o time. Falando nela, o relacionamento de Daenerys com Tyrion (Peter Dinklage) segue longe de estar nos melhores dias: os dois seguem discordando de muita coisa e, se continuar nesse ritmo, é presumível que a parceria entre os dois não resista por muito tempo. Daenerys decide ir ao Além da Muralha para resgatar Jon e os demais em uma sequência incrível, dirigida pelo veterano Alan Taylor, responsável pelos dois últimos capítulos da primeira temporada e pelo encerramento da quarta. Vale pontuar que, somando essa batalha com o ataque Greyjoy e com o massacre dos Lannister, a sétima temporada merece créditos pela criatividade em organizar as condições perfeitas para os mais diferentes tipos de conflitos.

Os momentos finais do episódio são eletrizantes desde o começo do ataque dos mortos-vivos até a hora que Daenerys surge com seus três dragões cuspindo fogo sobre a horda putrefata. O que esse episódio faz é juntar as sensações como a angústia de A Battle of the Bastards com a impotência do Red Wedding - assistir Game of Thrones é um exercício para fortes. A morte de Viserion é chocante e atesta o potencial do inimigo enfrentado. E a fuga de Daenerys com os demais homens nas costas de Drogon não é nem o fim da batalha, já que Jon Snow fica para trás rendendo alguns bons acréscimos. A série lança mão da carta-trunfo de Benjen Stark (Joseph Mawle) pela última vez, enquanto um Jon Snow à beira do seu limite físico escapa com vida.

Nesse ponto da trama, é impossível fechar os olhos para o casal formado por Jon e Daenerys. A discrepância entre a preocupação da Mãe de Dragões com a possibilidade do rapaz estar morto em comparação com seu luto pela morte de um de seus filhos alados chega a ser questionável do ponto de vista da força do amor dela pelas criaturas, construído ao longo de sete temporadas. A conversa dos dois no pós-batalha também não é bacana só pelas mãos sugestivas se segurando, mas por mostrar líderes expondo suas fragilidades. Jon, de peito aberto e expondo as marcas nunca completamente cicatrizadas de sua morte, aceita Daenerys como Rainha, enquanto ela revela a ele sua impossibilidade de gerar herdeiros. É só nesse momento que Jon toma para si as lutas de Daenerys e ela faz o mesmo por ele.

Em Winterfell, a relação entre Sansa (Sophie Turner) e Arya (Maisie Williams) também avança e pequenos ressentimentos do passado se tornaram monstros gigantes escondidos embaixo da cama. Se até agora a jornada de Arya foi focada em se tornar uma arma selvagem, parece que será através de Sansa que a jovem deverá aprender que existem perigos escondidos em lugares inimagináveis e ela precisará passar por cima do seu ódio para encontrar a racionalidade. É difícil acreditar que Mindinho (Aidan Gillen) vá sair ileso dessa - ao mesmo tempo que ele esteve jogando suas cartas, tanto a cena em que Sansa conversa sozinha com ele quanto a partida de Brienne (Gwendoline Christie) podem ser indicativos de que ela também está jogando as dela.

Assim como a série plantou em Daenerys a consciência da necessidade de encarar os White Walkers, certamente fixou essa certeza nos demais sobreviventes do incidente - todos eles deverão ser peças fundamentais na mobilização de Westeros perante isso. A fixação de Cersei com o trono começa, enfim, a assumir ares obsoletos perante a ameaça da Muralha - o exato oposto dda dinâmica da série até essa temporada -, mas ainda é um problema a ser resolvido. Por sorte, há uma semana ainda até a exibição do episódio final: deve ser o suficiente para desembrulhar o estômago perante a sensação de assombro deixada por “Beyond the Wall”. Game of Thrones é exibida no Brasil pela HBO. O próximo episódio da sétima temporada vai ao ar em 27 de agosto, às 22h.

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