Séries e TV

Artigo

Como a nova greve dos roteiristas pode afetar o que você vê na televisão?

Caso paralisação aconteça em 2 de maio, várias atrações estarão comprometidas

28.04.2017, às 17H56.
Atualizada em 29.04.2017, ÀS 01H09

Uma nova greve dos roteiristas pode estourar em 2 de maio: o Writers Guild of America (WGA) autorizou a paralisação contra as empresas de produção após uma votação com mais de 96% de votos favoráveis. Para quem não está por dentro, o WGA é o órgão sindical que defende as demandas dos roteiristas de televisão, cinema, rádio e novas mídias. No caso dessa paralisação iminente, a Alliance of Motion Picture and Television Producers (AMPTP) tem feito o papel de barganhar em favor dos estúdios, mas as duas partes ainda não conseguiram chegar a um acordo - o que pode modificar o calendário de produção e lançamento de séries, além de causar fortes prejuízos aos estúdios.

Mas o que está motivando a nova greve? Os profissionais têm uma longa lista de exigências, principalmente no que diz respeito ao aumento nas remunerações mínimas e que os estúdios contribuam mais para seu plano de saúde, mas a grande novidade dessa vez é um questionamento sobre o modelo de pagamento de plataformas de streaming, como a Netflix, a Amazon Prime e o Hulu, que cresceram imensamente na última década. Em função disso, uma das demandas dos roteiristas é que as estruturas de pagamento sejam igualadas com as da televisão, já que os valores continuam sendo muito inferiores nos serviços de streaming.

A última vez que tivemos uma greve de roteiristas com grandes consequências em Hollywood foi há 10 anos, entre 2007 e 2008. A paralisação começou em novembro e foi até fevereiro - mais de 12 mil roteiristas pararam a produção de inúmeros talk shows e seriados de televisão. Várias séries de sucesso foram afetadas, como The Big Bang Theory,Two and a Half Men, How I Met Your Mother, House, Saturday Night Live, ER, Heroes Supernatural. Para se ter uma ideia do impacto de algo assim, os prejuízos da última para a indústria do entretenimento nos EUA foram estimados em mais de US$ 2 bilhões.

Dessa vez, uma das séries mais afetadas deverá ser The Walking Dead. O programa acabou de começar a dar os primeiros passos na produção da oitava temporada, mas, se a greve começar de fato na próxima semana, as atividades serão interrompidas e haverá um hiato de produção até o fim da paralisação. Durando tanto tempo quanto a última greve, isso comprometeria o lançamento dos episódios inéditos e geraria um problema sério para o que é esperado de audiência pela AMC, canal que transmite o programa, além de acabar reverberando nos investimentos que vem de anunciantes. Ver a estreia ser empurrada para depois de outubro pode não ser uma coisa tão interessante para o programa que já vem sofrendo com a queda dos números da audiência.

Mais prejudicados ainda que The Walking Dead estão os talk shows noturnos e os programas humorísticos sobre atualidades transmitidos na televisão norte-americana como o Saturday Night Live. Estes já teriam a exibição comprometida na semana seguinte ao início da greve, visto que os roteiros são sempre muito frescos por focarem no que está acontecendo no mundo.

As séries da Marvel Jessica Jones e Luke Cage, com início de produção para maio, nem sairiam do papel até o fim da greve - o mesmo vale para American Horror Story, com calendário de gravações semelhante por retornar todo ano por volta do Halloween. Outras séries de Ryan Murphy também seriam impactadas: as duas temporadas de American Crime Story (Versace e Katrina) e o próximo ano de Feud já estão sendo escritos e ficariam estacionados. Voltando à Marvel, mas fora da Netflix, a nova atração focada nos Inumanos também ficaria na linha de frente por já ter definido uma data de estreia e possivelmente precisaria remarcar se a greve se estendesse demais, visto que também ainda está no começo da produção de seus oito episódios do primeiro ano.

No caso de atrações que já estão no meio do processo de filmagens, os efeitos são diferentes. Mr. Robot já está trabalhando no novo ano há cerca de duas semanas e, dependendo da duração da greve, isso pode resultar em tempo e dinheiro perdidos. Os principais efeitos de uma paralisação, em geral, acabam sendo adiamentos dos retornos ou cortes na quantidade de episódios. Se a greve durar muito tempo? Obviamente, mais séries serão afetadas. Além das previstas para começar a produção em breve ou as que estão no meio do processo, vale lembrar que vários programas lançados entre setembro e novembro começam a gravar em julho. Uma paralisação longa acabaria afetando séries como The Big Bang Theory, Empire e Grey’s Anatomy, hits da televisão cujas ausências causariam certamente problemas nos números gerais de audiência.

As séries que já concluíram o processo de produção para a próxima temporada ou que pelo menos estão longe o suficiente de começar são Game of Thrones, Twin Peaks, Orange is the New Black, Orphan Black, Deuses Americanos, Outlander, Preacher e Stranger Things - e, em tese, ficariam a salvo nesta greve. Curiosamente, há também a possibilidade de programas terem maior duração por conta da paralisação dos roteiristas. Em 2007, alguns reality shows como Amazing Race e Big Brother tiveram mais episódios para compensar buracos deixados pelos outros programas da grade.

Outra coisa curiosa é que, no caso da greve, os serviços de streaming poderiam se beneficiar - ainda que eles sejam uma das pautas dos próprios roteiristas. Ainda que suas produções originais também acabassem sendo afetadas, com a programação televisiva virando um mar de reprises, muitos espectadores migrariam para serviços como Netflix e Amazon Prime, já que eles possuem uma grande cartela de variedades.

Na última semana, o diálogo entre a WGA e a AMPTP assumiu ares mais brandos, mas especialistas ainda acreditam que a maior probabilidade seja de que a greve de fato aconteça. Órgãos como a American Federation of Labor and Congress of Industrial Organizations, maior central operária dos EUA, e a NFL Players Association, organização trabalhista que representa os jogadores de futebol americano profissional, já demonstraram apoio à reivindicação por uma remuneração mais justa para os roteiristas - a própria Writers Guild of America estimou que os principais conglomerados de entretenimento tiveram US$ 51 bilhões em lucros no ano anterior, enquanto que, por conta da substituição do formato padrão de séries de mais de 20 episódios para o de cerca de 13, os roteiristas passaram a ganhar cada vez menos.

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