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A chegada de Ted Chiang: conheça o autor que inspirou um dos melhores filmes do ano

Coletânea lançada pela Intrínseca revela pequena porém premiada produção de escritor

29.11.2016, às 11H33.
Atualizada em 29.11.2016, ÀS 14H08

Em uma história, um minerador sobe a famosa torre de Babilônia com a missão de escavar a abóbada celeste e se questiona, temendo as consequências da ambiciosa obra. Em outra, uma professora de Matemática descobre algo crucial e perturbador, dando início a uma reflexão precisa e devastadora sobre o fim da esperança e do amor. Em uma terceira, anjos do Antigo Testamento aparecem nos céus do Estados Unidos e provocando todo e qualquer tipo de distúrbio e catástrofes contra o povo. Em uma quarta, uma linguista é recrutada pelo governo norte-americano para decifrar a misteriosa linguagem de alienígenas que chegaram subitamente à Terra.

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Estas histórias correspondem à um quarto de toda a produção literária de Ted Chiang, autor norte-americano de ficção científica que tem seu trabalho adaptado para os cinemas em A Chegada, ficção científica dirigida por Denis Villeneuve, estrelada por Amy Adams e uma das principais estreias do fim do ano. Aproveitando o lançamento do filme, a Intrínseca está lançando no Brasil a coletânea História de Sua Vida e outros contos, que reúne oito textos do autor. Apesar de Chiang ter conquistado a maioria dos prêmios que o gênero pode conceder, sua reputação como um dos principais nomes do gênero foi construída com apenas 15 contos e breves histórias escritas nos últimos 25 anos.

O escritor de 48 anos que trabalha com redação técnica de softwares durante o dia nunca escreveu um romance. "Quando estou escrevendo uma história, geralmente a mantenho curta. Não acho que alguém consegue manter a concentração necessária quando o texto é muito longo", disse certa vez em rara entrevista. Religião, linguística e conceitos matemáticos e físicos são alguns dos complexos temas que Chiang consegue abordar em poucas palavras e obrigam o leitor a questionar a natureza da realidade, sobre o que é “ser humano” e como sabemos as coisas que pensamos saber.

A História de Sua Vida, escrito em 1998, conta a trajetória de uma tradutora e linguista que descobre que a comunicação com alienígenas que chegam à Terra traz consequências sobre sua própria percepção da vida e a forma como pensa. Uma narrativa instigante sobre a natureza da livre escolha e com conceitos de relativismo linguístico, o conto não era o candidato mais simples do trabalho de Chiang para um adaptação. Essa complexidade talvez explique os dez anos de negociação do roteirista Eric Heisserer para conseguir um ‘sim’ para seu projeto.

Ted consegue equilibrar uma ficção intelectual e complexa com sentimentos simples e mundanos. Ele educa o leitor sobre teorias físicas e logo depois o faz molhar as almofadas do sofá com lágrimas. História de sua vida é muito marcante para mim. Eu sabia que queria adaptá-la para o cinema, mas não tinha ideia de como, ou com quem. Passei anos pesquisando e reescrevendo até encontrar os produtores ideais, mas ninguém queria embarcar nessa com a gente. ‘Não achamos que você sabe como escrever essa história’, era o que falavam, ou “Vamos aceitar esse projeto se você alterá-lo para um grande filme de invasão alienígena em que um humano soca um E.T no fim”, comentou Eric antes da estreia do filme.

“Não concordo com a ideia de que ter seu trabalho adaptado para o cinema é o grande objetivo de um autor. Este desejo implica a ideia de que a versão escrita é apenas um aquecimento para uma encarnação mais gloriosa de seu trabalho. Além do mais, todo o processo de adaptação é exaustivo. Eric escreveu quase cem versões [do roteiro] durante cinco anos. Fico feliz que ele teve a força de vontade para isso, porque certamente não conseguiria", disse Chiang em entrevista ao Literary Hub.

De fato, A Chegada não é um filme de invasão alienígena qualquer. Apesar do filme ter novas dinâmicas - como um clima bélico iminente e a possibilidade de uma guerra mundial - e a supressão do enredo pessoal de Louise, a obra mantém uma singularidade que se deve principalmente ao trabalho de Chiang, que já está sendo chamado de “o novo Philip K.Dick”. Se a trajetória comercial do filme corresponder às expectativas previamente depositadas, Chiang poderá ver seu trabalho chegando a pessoas que não sabiam que estavam interessadas em ficção científica.

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