Fevereiro foi um baita mês para as mulheres no mundo da música! Teve anúncio de novo álbum da rainha Beyoncé, retorno triunfal de Jennifer Lopez, além de ótimas novas canções da sul-coreana IU, do grupo TWICE e da diva country Kacey Musgraves. Todas essas canções, e mais algumas seleções nossas, você encontra abaixo.
“Deeper Well” - Kacey Musgraves
Depois de vencer o Grammy de Álbum de Ano pelo encantador Golden Hour e tropeçar no pop com o disco de divórcio Star-Crossed, o novo single de Kacey Musgraves mostra que ela está pronta para uma correção de curso. Com uma linha melódica que tem a assinatura da cantora gravada em fogo, “Deeper Well” fala de chegar à vida adulta com franqueza refrescante, mas também certo misticismo. Por cima de percussão e violão delicados, que ficam no limiar confortável entre folk e country, Musgraves canta docemente na direção do álbum Deeper Well, que sai dia 15 de março.
“Lie With You” - TEN
O primeiro álbum solo do cantor tailandês Ten, conhecido por seu trabalho com o grupo de k-pop NCT, está cheio de excelentes ideias dançantes (melhor representadas pelo propulsivo e surpreendente single “Nightwalker”), mas nenhuma delas parece tão bem realizada quanto a balada cínica e machucada que fecha o disco, “Lie With You”. Com algo de pop punk em sua produção de bateria eletrônica e toques de guitarra, a canção tira o melhor do timbre elástico e expressivo de Ten ao colocá-lo diante de uma melodia circular ascendente que chega a alturas alarmantes no pré-refrão. É a faixa perfeita para deixar o ouvinte cantarolando (e mexido) no final do álbum.
“Texas Hold Em” - Beyoncé
Você me ganhou em “Beyoncé no country”. Para este crítico que vos fala, que de quando em quando ainda faz um arrasta-pé no meio da sua cozinha ao som de “Daddy Lessons”, a perspectiva de ver a diva mergulhando no gênero é causa o bastante para comemoração - mas “Texas Hold Em”, que explora brilhantemente o registro mais baixo da cantora enquanto a coloca diante de um instrumental baseado em um banjo delicioso, superou até as minhas maiores expectativas. A ideia de resgatar as raízes negras do country é brilhante, e o Renaissance: Act II tem tudo para ser ainda melhor do que o seu antecessor - meus ouvidos certamente estarão atentos em 29 de março.
"Sugar Rush" - BIBI
Lá em 2021, eu me apaixonei por BIBI com a viciante “Bad, Sad and Mad”, um épico trap de menos de 3 minutos, que usou pouco mais do que um toquinho de teclado e uma letra espertamente sugestiva para se tornar uma das minhas canções favoritas do ano. “Sugar Rush” soa, portanto, como um doce retorno às raízes para a rapper e cantora sul-coreana, voltando a mexer com imagens psicossexuais por cima de uma batida simplista e inclusões inesperadas de produção - atenção para a chegada do violão no segundo verso, um momento delicioso de se ouvir a cada reprodução. Coloque na conta um clipe iconográfico com participações de Soyeon (do (G)I-DLE) e Yena e pronto, você me convenceu.
“Divorce” - Paloma Faith
Se Kacey Musgraves fez o seu álbum de divórcio alguns anos atrás, Paloma Faith acabou de lançar o seu. The Glorification of Sadness é mais um disco da britânica que não alcança as glórias teatrais do começo de sua carreira, mas - como todos os anteriores - tem grandes ideias musicais salpicadas em suas excessivas 17 faixas. “Divorce”, apesar do título nada sutil, é a melhor e mais direta balada da tracklist, com Faith esticando seu timbre cheio de soul por cima de um piano melancólico e um pacote de cordas evocativo. Ajuda que o refrão seja sentido e bem composto, com dois versos finais devastadores: “Segurei sua mão, nos beijamos e dissemos ‘desculpa’/ Mas ‘desculpa’ é a última palavra antes do divórcio”.
“Shh..” - IU (Feat. Hyein, Wonsun Joe & Patti Kim)
Com carinha de balada rock-soul, “Shh..” traz a declaração mais poderosa do novo álbum da irrepreensível IU, talvez a cantora mais popular da indústria do k-pop. Chamando vocalistas de outras três gerações do pop sul-coreano para dividir o microfone com ela, IU afirma a necessidade e vitalidade da presença feminina no contínuo da cultura pop - melhor ainda, ela faz isso por cima de guitarras cheias de swing e corais afirmadores que só fazem realçar seu timbre esganiçado (no melhor sentido possível, juro!). A melodia sentimental de “Love Wins All”, com seu agudo absurdo, pode ter encantado os ouvintes - mas é aqui que o disco The Winning diz a que veio.
“Dear Ben, Pt. II” - Jennifer Lopez
Diante da coleção de canções de R&B competentes - mas esquecíveis - do álbum This is Me… Now, “Dear Ben, Pt. II” se destaca tranquilamente com seu violão circular e sua melodia flutuante, que os vocais de Jennifer Lopez carregam de carisma. Cheia de declarações grandiosas em meio a gírias ridículas (como celular virou “ring-ring”, eu não sei), esta nova “Dear Ben” foge da sombra da original ao se estabelecer como uma canção de popstar no meio de um disco que quer transformar dita popstar em diva soul. J.Lo não é nem nunca vai ser Mary J. Blige, muito embora a alegria expressada por ela em This is Me… Now se aproxime da narrativa que define a carreira tardia da rainha do R&B.
“Like a Fool” - Moonbyul
“Like a Fool” é o exemplo mais puro da mistura de referências hip-hop e soul que Moonbyul destila em seu primeiro álbum solo, adquiridas em uma década de atividade no grupo Mamamoo. Passeando com conforto por uma melodia arrastada que, nos álbuns do grupo, normalmente seria encarregada às companheiras HwaSa, Wheein e Solar, a rapper mostra que seu tom anasalado e expressivo tem seu charme - enquanto isso, a produção esbanja riqueza de detalhes, do um baixo noventista que marca os principais versos ao inesperado solo de saxofone que aparece na marca dos 3 minutos da canção. O Starlit of Muse pode não ser uma obra-prima, mas mostra que Moonbyul tem força como artista solo.
“Bloom” - TWICE
Volta a forma do TWICE após anos de 2022 e 2023 pouco convincentes, o álbum With YOU-th nos lembra que o grupo liderado por Jihyo sabe criar canções pop contagiantes e cheias de detalhes melódicos fascinantes como ninguém. E veja bem: “Bloom” é provavelmente a melhor faixa pop do ano até agora, ostentando agudos ousados em sua melodia ascendente à la Bee Gees, seus sintetizadores graves pareados com bateria eletrônica etérea, e seus chamados irresistíveis à pista de dança (“yeah-yeah-yeah” no finalzinho do último refrão chega a ser covardia). Num álbum que tem a empolgante “I Got You”, a fofíssima “New New” e a desenvolta “You Get Me”, ainda é o destaque absoluto.
