Música

Crítica

Robert Plant - Carry Fire | Crítica

Vocalista celebra o presente respeitando o passado

13.10.2017, às 11H27.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H45

Não se deixe enganar pelos vocais calmos e quase sussurrados de "The May Queen", a música que abre Carry Fire - o novo trabalho solo de Robert Plant. Aos 69 anos de idade, um dos maiores veteranos do rock sabe que não faz sentido tentar sair berrando por aí como se o tempo não tivesse passado. E é sobre a passagem do tempo - e os aprendizados que ela traz - que Plant canta aqui.

Seria até meio ridículo tentar emular o Plant de 45 atrás, sendo que sua bagagem hoje é totalmente diferente do que era nos dias gloriosos do Led Zeppelin. Mas por outro lado, também seria espúrio ignorar sua própria trajetória e fazer um disco totalmente desconexo das suas raízes.

Esse equilíbrio transforma Carry Fire num dos trabalhos mais ricos de Plant nos últimos anos, bem puxado para o folk, recheado de percussões e ritmos africanos e por vezes até efeitos eletrônicos, e com muito mais foco e boas ideias de que alguns de seus trabalhos dos anos 80 e 90.

Bastante melancólico, o disco esbanja um sabor refinado e um artista que tem muito pouco para se preocupar e muito para compartilhar. É quase uma conversa onde ele divide com a gente importantes experiências de sua maturidade, como um grande desabafo. Novamente na companhia dos Sensational Space Shifters, Plant discute sobre a mortalidade em "Seasons Song", compreendendo que apesar dos limites do corpo a mente nunca para.

A energética "New World" abusa das guitarras e é um dos pontos altos do álbum, onde ele canta com vigor sem se comprometer com nenhuma tentativa de emular a si mesmo, e é exatamente por isso que a faixa funciona. A faixa tem o espírito do Led Zeppelin e descreve um mundo fantástico de aventuras, mas do ponto de vista de um senhor experiente que sabe que, apesar de já ter vivido de tudo, sempre está aberto a descobrir o que vem por aí.

"Bones Of Saint" e "A Way With Words" são bons exemplos que representam a atmosfera do disco: as faixas oscilam entre a reflexão e o impulso, entre aceitar o envelhecimento e ser feliz com ele e o instinto de nunca deixar a chama se apagar. E Carry Fire tem tudo a ver com esse dilema.

Não é novidade para ninguém o misticismo presente na obra de Plant, e ele continua em grande escala aqui. Talvez a diferença seja a intensidade com que ele mescla o velho com o novo ou como as paisagens sonoras se expandem e ficam mais dramáticas. Seja como for, é notável a percepção de como a banda se preocupa mais com o atmosfera do que com as notas e a execução em si.

Tudo para criar um cenário propício para as mensagens espirituais dele, que faz questão de se auto referenciar. "The May Queen" aparece lá atrás, em "Stairway To Heaven", e se mescla com o novo aqui no primeiro single de Carry Fire.

É Robert Plant em sua constante jornada de (re)descobertas, celebrando o presente e respeitando o passado. Que bom que ainda existem ícones se preocupando em manter-se relevantes.

Nota do Crítico
Ótimo

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