Música

Crítica

LCD Soundsystem - american dream | Crítica

Com álbum que resgata o melhor de sua sonoridade, grupo retorna, mostra relevância, mas se apoia na novidade antiga de serem os mesmos

09.09.2017, às 12H31.
Atualizada em 09.09.2017, ÀS 14H01

Dez músicas, 68 minutos, assim é o retorno do LCD Soundsystem após um hiato de seis anos. Não dá pra negar que a entrada com “oh baby”, faixa desacelerada, cheia de camadas, e sintetizadores que embalam a voz de James Murphy ganha a atenção de qualquer pessoa em busca de uma música capaz de te levar para um passeio, mas sem forçar a barra. Assim, american dream, o disco que trouxe o grupo de volta ‘dos mortos’, abre as portas para experiências de quem já conhecia a banda de Nova York e também para quem ainda não teve contato com todas as possibilidades sonoras exploradas por um time de músicos que tem na mistura entre o orgânico e a sonoridade eletrônica um de seus grandes trunfos.

E claro, fora o fato do embate dos fãs que questionaram o retorno do LCD após um show de despedida no Madison Square Garden, entre outros detalhes, o grupo segue com certa tranquilidade para a segunda faixa, “other voices”, relembrando sua mistura e as quebras dançantes que devem movimentar os corpos mais aflitos para encontrar a sonoridade que melhor representa um dos coletivos musicais mais queridinhos entre os descolados da década passada.

Com isso, algo que fica evidente já nas duas primeiras faixas, é que a vontade/necessidade de misturar essas possibilidades sonoras garante ao grupo trilhar um caminho já explorado - graças às muitas referências do novo material -, mas sem que a sensação de novidade deixe de permear essas criações.

O disco segue por uma pegada percussiva, marcada por graves e vocais levemente melancólicos de Murphy, como se a intenção fosse colocar as letras em destaque, fazer com que a sonoridade que dialoga - de alguma maneira - com a malemolência dos tambores latinos seja a cama para que cada uma das frases entoadas possam ganhar destaque. Isso fica nítido em “i used to”, “change yr mind” - que aposta em acordes dissonantes para construir sua atmosfera até chegar em sua entrega final, perfeita para ganhar diversos remixes -, e “how do you sleep?” - que lembra uma declamação acompanhada por ritmos percussivos até alterar suas nuances para algo próximo de um momento tribal eletrônico (sério) que empolga e cria o momento perfeito para receber o que vem à frente -. Até este ponto, fica claro como o trabalho com possibilidades musicais tão distintas em conjunto com nuances que se agregam de maneira tão melódica compõem uma peça realmente única e que, apesar de inseridas em conjunto com momentos melancólicos, ainda funcionam muito bem como um convite para dançar, esteja você de mau humor ou somente com vontade de se deixar levar.

A entrada da segunda metade de american dream surge como algo mais animado, dando pistas de que o início serviu, apenas, para preparar seus ouvidos para o próximo passo. “tonite” abre a série, seguindo para “call the police” com sua vibe U2 embebida em uma sonoridade espacial/especial que retorna à melancolia que só o “american dream” em seu momento atual pode trazer, mas dessa vez com um clima mais estilizado por camadas eletrônicas e também menos percussivas. A sequência final chega marcada por “emotional haircut”, com sua diversidade sonora rabiscada por timbres mais roqueiros, com altos e baixos que empolgam e conduzem para os 12 minutos de “black screen”, faixa que entrega um espaço tranquilo após toda a jornada do disco, com sua longa introdução e a construção de um clima oitentista que se encerra com pouco mais de cinco minutos instrumentais, talvez para garantir a ‘digestão’ de tudo que o grupo proporcionou durante este novo-velho caminho.

No fim das contas, o retorno do LCD Soundsystem não é algo novo. Não funciona como algo que veio para mostrar ou ampliar as possibilidades do que o grupo já fazia anteriormente, mas mostra o amadurecimento sonoro e, possivelmente, uma vontade de se reencontrar com seus fãs. O projeto, como um todo, funciona como a obra bem acabada de uma banda que entende seu status entre os amantes da música, não busca jogar de forma segura, mas também não acrescenta nada que pudesse causar o brilho nos olhos que seus outros projetos conseguiram. É um bom disco que pode ser trabalhado em diversas nuances para ganhar ainda mais corpo, mas funcionaria ainda mais se tivesse sido lançado há cinco anos.

Nota do Crítico
Bom

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.