Música

Crítica

Lana Del Rey - Lust For Life | Crítica

Artista cotinua falando de suas batalhas internas e não entrega o óbvio em 5º disco da carreira

21.07.2017, às 11H15.
Atualizada em 21.07.2017, ÀS 11H59

Lana Del Rey, depois de ter estourando em 2011 com "Video Games" e "Blue Jeans", se transformou em um fenômeno pop e desde então vem construindo uma carreira bastante sólida, sempre se alimentando das mazelas de sua vida pessoal e do mundo para lapidar seu som com a acidez e o toque obscuro que conquistou milhares de fãs.

Lana Del Rey novo disco

Agora, com Lust For Life, ela mantém seu hype intacto enquanto passeia pelos mesmos caminhos musicais, mas agora com uma dose extra de liberdade. Mas não uma liberdade filosófica ou política e sim sua liberdade pessoal. Não que ela não pudesse fazer o que bem quisesse em seus álbuns anteriores, mas em seu novo trabalho ela se mostra totalmente livre, e não quer nem saber o que os outros vão pensar. É o tipo de conquista que poucos artistas têm, e haja desprendimento para seguir mesmo diante da pressão do mercado por mais um hit, mais um álbum de sucesso, mais um video que precisa ter milhões de views.

Hoje, para ela, tudo isso ficou fácil, e Lust For Life exala justamente esse espírito de vitória. Lana chegou lá faz tempo, na verdade, mas parece que agora está oficialmente começando a curtir mais sua própria glória. Já no primeiro single do disco, "Love", ela exalta seu público  - seus quase súditos que lotam seus shows e fazem dela uma das principais headliners de Coachellas e Glastonburys mundo afora - mas agrega valor ao passe: onde uma artista qualquer só focaria no reflexo de seu próprio espelho, Lana vai além e faz o papel de mentora dessa galera: “Vocês jovens ouvindo suas músicas vintage pelo celular/satélite, são parte do passado mas agora são o futuro.”

Ou seja, em cada viagem musical de Lana há um recado, há uma preocupação em não ser apenas a musa da internet que virou celebridade. O lado político também ganhou mais espaço em Lust For Life: "God Bless America and all the Beautiful Women in It" é um pêndulo musical que oscila entre o idealista e o distópico, com uma Lana esperançosa de que seu país pode ser um lugar melhor, e faz uma ironia inteligente pedindo a bênção ao mesmo tempo em que se ouvem tiros ao fundo.

O interessante de Lust For Life é que mesmo com as mensagens mais maduras e por vezes sérias, Lana está mais solta para ser ela própria, e dentro do espírito de se curtir ela se permite até ser romanticamente brega na faixa título, outro single já divulgado, com a participação de The Weekend.

O video já deixava claro que aquilo se tratava de outra Lana del Rey: fazendo uma sátira de como a gente fica flutuando e besta quando está apaixonado, ela fez seu próprio dueto amoroso à la Lana: abusando dos clichês tanto no visual quanto na mensagem, ela espertamente não deixou de fora sua acidez. O amor, a paixão, a ilusão de que tudo é perfeito e com final feliz como nos filmes de Hollywood não passa disso: uma ilusão.

Lust For Life mantém também a ambição de trazer sempre novos elementos sonoros para o caldo: assim como Ultraviolence abusava das distorções e Honeymoon deu mais peso para cordas e bases pomposas, o novo álbum também brilha com efeitos mas também valoriza os instrumentos mais crus: aqui tem mais baladas de piano, as guitarras são mais limpas, alguns efeitos aparecem mais como um tempero, mas não como ingredientes principais. Lana até se declara fã dos Beatles em "Tomorrow Never Came", numa mistura de nostalgia e tributo à "Tomorrow Never Knows" onde a sonoridade dos Fab Four é emulada com todos os seus maneirismos.

Change é uma das mais bonitas do disco, onde ela se expõe sem timidez e tenta achar a força para ser fiel, e "Beautiful People Beautiful Problems" é mais uma alfinetada para mostrar que quem julga os outros pelas aparências deveria olhar mais para si mesmo.

Cheia de recados, Lana vai e vem de suas batalhas pessoais mas nunca entrega o óbvio. Seu romantismo apimentado não é superficial, e muito menos sua imagem de donzela como ela se mostra na capa. Lana penou e teve que se desdobrar para chegar até aqui. Poder fazer o que se quer é um privilégio conquistado. E se “the lust for life keeps us alive”, a hora é agora. Lana Del Rey não precisa provar mais nada para ninguém.

Nota do Crítico
Ótimo

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