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Crítica

Depeche Mode - Spirit | Crítica

Novo álbum mostra boa forma dos Ingleses e fala sobre amor e política na hora certa

22.03.2017, às 16H48.
Atualizada em 22.03.2017, ÀS 19H00

O Depeche Mode é um dos principais nomes da música eletrônica mundial. Apostando em experimentalismos entre a sonoridade das máquinas e um diálogo com o rock, desde o início da  década de 80, o grupo sempre buscou inserir novas camadas musicais dentro de um conceito que viaja bem entre o rock, o pop e que atualmente se enquadra em um dos diversos segmentos da música eletrônica produzida no mundo.

Integrantes do Depeche Mode posam para foto de divulgação

Spirit, 14º disco da carreira, chega com todos esses elementos e mostra que a banda não perdeu a mão e nem o fôlego na hora de criar músicas que tenham significado atual e com sonoridade não datada, o que é bem difícil para grande parte das bandas que permanecem tanto tempo na ativa. Assim, o novo álbum, logo de entrada, surpreende pelo clima da faixa "Going Backwards" que chega como um soco, cheia de frases falando sobre a realidade de hoje, na qual é possível ver pessoas morrendo em tempo real, mas ninguém "Sente mais nada". Em seguida, "Where´s The Revolution" vem com mais uma mensagem direta, mostrando que a banda não está para brincadeira. Sem dúvida, a melhor escolha de single para esse disco.

Um detalhe interessante é que todas as músicas presentes em Spirit foram compostas antes de todos os acontecimentos políticos e econômicos que tem ganhado destaque ao redor do planeta. E esse fator dá uma aura ainda mais interessante ao projeto que chega como um gatilho para para fazer pensar e refletir. Uma das principais funções da música, e da arte como um todo, mas que em alguns momentos acaba ficando para trás.

Depois de duas pedradas, o álbum entra em um clima diferente e segue reflexivo com "The Worst Crime", mais uma vez comentando sobre o que move as pessoas para direções tão arbitrárias em relação a tudo. Dave Gahan, a mente por trás das criações, afirmou em entrevista à Rolling Stone que a letra dessa faixa é sobre mudança, "Você precisa fazer algo diferente ou agir diferente. [...] Individualmente, eu acredito que as pessoas são inerentemente boas, mas nós somos distorcidos pela informação que chega até nós e reagimos com essa informação por medo", destaca.

Após esse momento, o álbum ganha uma sonoridade mais sombria com "Scum", "You Move", a primeira faixa a deixar a política de lado e partir para os relacionamentos, seguida por "Cover Me", que se mantém na mesma seara, falando sobre um relacionamento que está acabando, e que encanta por uma certa sonoridade contemplativa que evolui em uma cadência mais rápida até alcançar o auge e te colocar para dançar.

O amor permanece em destaque com uma letra simples e arranjo básico em "Eternal", seguindo para "Poison Heart", que nesse momento já faz o disco parecer outro projeto, justamente por tratar de um amor perdido, com arranjos diferentes e uma atmosfera totalmente nova quando comparada ao que o grupo mostrou no início do álbum. A mudança de direção não é algo que atrapalha a experiência, mas altera o andamento e, em um primeiro momento, não é o que os ouvidos esperam do disco.

"So Much Love", retoma o andamento mais acelerado e a sonoridade mais eletrônica, ainda falando sobre amor, mas dessa vez de uma forma menos dolorida. "Poorman", depois de todo o clima de amor e a virada prévia, é mais um dos pontos altos do disco. Uma composição comentando sobre a realidade de uma vida desgastada, com riff muito bem encaixado e que pode permanecer em looping por horas a fio. Minha aposta para se tornar um clássico das depressões econômicas para as próximas gerações.

O álbum segue por sua mistura entre temáticas amorosas com "No More (The Last Time)", novamente climática, com sintetizadores e bem compassada, segue para mais uma pedrada com "Fail", falando sobre consciências corrompidas, futilidades e que "nós falhamos", e encerra com a instrumental "Cover Me (Alt Out)", perfeita para refletir sobre a jornada, não só a sonora, mas também das palavras. A versão deluxe do disco ainda conta com mais quatro remixes.

No final das contas, o Depeche Mode colocou no mercado um daqueles efeitos colaterais que só tempos difíceis conseguem produzir e equalizar. A criatividade sonora mantém tudo fresco para quem busca boa música e infinitas possibilidades de ser influenciado por boas coisas, mas o período que estamos agora e a forma como a obra cai no colo do público é excepcional. Timing perfeito, esmero total com o que foi entregue. Também merece destaque a tentativa de não deixar o disco monotemático, mas não dá pra negar que o projeto perde um pouco de sua força nesses momentos. Por fim, um grande disco para uma grande discografia. Ouça Spirit na íntegra.

Nota do Crítico
Ótimo

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