Depois de quase 20 anos de espera (e um pequeno fenômeno chamado The Mars Volta nesse meio tempo), o At The Drive In ressurge com um disco novo carregado de euforia por parte de qualquer fã. Natural, é claro. A banda sempre foi um dos principais nomes de seu estilo e tanto tempo fora dos holofotes é a típica situação onde as expectativas explodem. E é justamente o caso aqui.
O grande “problema” (note as aspas) de intervalos tão longos é que muitas vezes tem-se a tendência de esquecer que 17 anos passam para todo mundo, inclusive para os membros da banda e o contexto no qual ela está inserida. Logo, esperar exatamente um disco como os anteriores é, no mínimo, um pouco injusto com a própria banda.
in•ter a•li•a tem um mérito incrível de conseguir, ainda que tanto tempo depois, manter sim a mesma sonoridade de Relationship Of Command(2000)e até Acrobatic Tenement(1998). Claro, com a marcha mais reduzida e um ataque um pouco menos agressivo, mas com muita competência e a mesma intenção de sempre.
Esse é o ponto forte do álbum: a essência. Não é nostalgia, é continuação de um trabalho que parou há 17 anos. Cedric Bixler-Zavaia trouxe anos de experiência adquirida com o Mars Volta e transforma os vocais do At The Drive In de forma positiva: ele sabe onde gastar e onde poupar, e ainda entrega força nos momentos estratégicos, valorizando ainda mais as composições. "Continuum" e "Governed By Contagious" estão entre as melhores da nova safra e ainda retém boa parte da fúria acumulada em Relationship, por exemplo.
"Hostage Stamps" é provavelmente a música que mais vai satisfazer a nostalgia de quem espera um disco mais parecido com os primeiros, e "Call Broken Arrow" tem as guitarras mais interessantes de todo o álbum, mostrando um Rodriguez Lopez mais do que inspirado.
É a velha história de bandas que voltam a lançar um trabalho depois de muitos anos. Muita gente vai torcer o nariz porque a energia não é mais a mesma - apesar de quase ser - mas o fato é: in-ter a-li-a é sim um grande trabalho que resgata a força e o espírito do At The Drive-In mesmo com todo o peso que um tempo enorme de 17 anos pode fazer.
Entregar um disco aceitável nessas circunstâncias já seria um desafio para qualquer banda. Neste caso, o disco não só é aceitável: é ótimo e consistente. Mérito mais do que merecido para uma banda tão sólida e tão importante para o hardcore.