Falta menos de vinte dias para a E3 2017, e poucas empresas estão cercadas de interrogações como a Microsoft. Enquanto a Sony parece estar numa situação confortável e deve continuar na sua mesma estratégia, e a Nintendo tem um caminho claro pela frente conforme continua construindo a biblioteca do Switch, a única certeza que temos no lado da turma do Xbox One é de que eles vão tentar convencer o mundo a comprar o Project Scorpio, versão mais poderosa do seu console atual.

Para fazer isso, a Microsoft vai enfrentar uma série de desafios. A ideia de versões mais poderosas dos consoles, uma "smartphonização" do mercado, ainda não foi realmente testada. Por toda a preocupação gerada pelo PS4 Pro antes do lançamento, a chegada da plataforma mostrou que tudo isso foi em vão. Sim, Horizon Zero Dawn é ridiculamente lindo no Pro, mas a versão padrão ainda é impressionante. O pulo gráfico da Sony existe, mas não a um ponto de prejudicar fãs e desenvolvedores. Entretanto, a diferença do Xbox One para o Scorpio é bem mais significativa.

Enquanto a CPU do PS4 tem oito núcleos Jaguar em 1.6GHz, o Pro aumenta isso apenas para 2.1GHz. Já o One a mesma quantidade, rodando a 1.75GHz. O Scorpio vai levar isso para oito núcleos x86 customizados em 2.3GHz. O PS4 Pro tem a mesma quantidade de memória RAM do original, aumentando apenas a quantidade de gigas por segundo. Já o Scorpio tem 12GB de memória, comparado a 8GB do One.

Podemos continuar isso falando de outras especificações técnicas, mas a ideia é clara. São quatro vezes mais poder gráfico. E isso tudo traz dois grandes problemas que devem ser enfrentados pela empresa de Phil Spencer.

Em primeiro lugar, temos o preço. O Scorpio já foi descrito pela Microsoft como "premium." O que isso significa? Não será uma surpresa se o console for lançado custando US$ 599 ou até mais, dependendo do armazenamento (2TB?) e acessórios (Elite Controller?) que vierem na caixa. Supondo que isso aconteça, a Microsoft precisa usar a E3 para justificar o alto custo e deixar claro qual é o objetivo do produto. O que não pode acontecer é uma tentativa de esconder o preço. É preciso deixar bem claro que tipo de console está sendo anunciado, e então convencer o público de que isso não é um absurdo. Jogos de qualidade que utilizam bem as capacidades do hardware são, talvez, a melhor forma de silenciar essa dúvida.

Project Scorpio
Microsoft

Enquanto esse problema fala do relacionamento com o consumidor, o outro trata dos desenvolvedores. Todos os jogos do Scorpio também precisam ser lançados no Xbox One, um console significativamente mais fraco. Isso apresenta uma dúvida interessante para os estúdios. Se você fizer um jogo que aproveita todo o poder da nova plataforma, será que isso significa que a versão do One será muito inferior, pelo menos visualmente? O oposto também pode acontecer. Um jogo que roda perfeitamente liso no One pode não aproveitar bem o Xbox mais poderoso.

A Microsoft já deixou claro que as versões para o Xbox One dos jogos não servirão como limites para o Scorpio. Os estúdios poderão usar os recursos de desenvolvimento como bem entenderem. Mas é preciso usar o palco mais importante dos eventos de games para deixar claro que o novo console é um ambiente tranquilo para os desenvolvedores, e isso pode ser feito simplesmente mostrando diferentes tipos de jogos, feitos por diferentes empresas, das pequenas às grandes, rodando tanto nas duas plataformas. 

Há um padrão aqui. Por mais incrivelmente óbvio que isso seja, os caminhos levam ao mesmo destino: jogos. A Microsoft tem dado um show quando o assunto é serviços. Nos últimos meses, o Games With Gold tem oferecido jogos mais atraentes do que a PlayStation Plus, e coisas como o EA Access e agora o Game Pass são elementos que destacam o Xbox One em relação aos competidores. Isso ajuda, mas são games que ajudam as pessoas a entrar e continuar num ecossistema de consoles.

Como o sumiço das Steam Machines mostra, o público de consoles não será movimentado apenas por hardware. Eles querem sentar, ligar um aparelho e jogar bons jogos. 60 milhões de unidades do PlayStation 4 foram vendidas por essa razão, enquanto as estimativas do Xbox One - que não são oficiais, já que a Microsoft esconde os números oficiais há anos - são baixas. Só no primeiro semestre de 2017, o console da Sony recebeu Gravity Rush 2, Persona 5, Horizon Zero Dawn, Yakuza 0 NieR: AutomataNenhum destes títulos têm avaliação abaixo de 80 (via Metacritic) e o único que marcou o início de uma nova franquia (Horizon), já se tornou uma das principais marcas do PlayStation.

Já a Nintendo lançou um novo console que já conta com um dos jogos mais bem avaliados de todos os tempos e terá muitos mais exclusivos ao longo do ano, como ARMSSplatoon 2 e o certamente gigante de vendas Super Mario Odyssey.

Enquanto isso, o único exclusivo da Microsoft lançado no começo deste ano foi Halo Wars 2, que é um bom jogo, mas nem entrou nos 10 mais vendidos do mês em que foi lançado nos EUA, o principal mercado do cenário mundial. O Xbox One precisa de jogos de peso. O Project Scorpio vai ser lançado com um novo Forza, uma ótima arma para o console, mas é preciso ir além quando a competição está trazendo seus melhores produtos para as prateleiras.

Crackdown 3
Microsoft

O que a Microsoft precisa é de algo que traga pra o One/Scorpio o peso que Halo trouxe para o Xbox original e Gears of War trouxe para o 360. Sim, temos Crackdown 3 Sea of Thieves, mas pelo que vimos, até agora é difícil depositar todas as fichas nestes jogos. Com o cancelamento de Scalebound, Phil Spencer e sua turma precisam de uma nova bandeira. Franquias - de preferência mais de uma - que sirvam como símbolos da cultura e ecossistema Xbox. Atualmente, eles não têm isso.

E não há lugar melhor para mudar isso do que a E3 2017. Phil Spencer já garantiu que o investimento em exclusivos está aumentando, e o mundo todo estará olhando, no domingo, dia 13 de junho, para ver os frutos disso. A Microsoft tem feitos movimentos muito inteligentes desde a saída de Don Mattrick. A retrocompatibilidade, o Xbox One S e tantas outras decisões que ajudaram a reverter completamente a animosidade que existia em 2013. Eles levaram a bola até o gol. Ela agora está nos pés do Scorpio. Tudo que resta é marcar um golaço.