Filmes

Entrevista

Saudade | Dirigido por Paulo Caldas, documentário explora a palavra que só existe na língua portuguesa

Longa passou pela Mostra de São Paulo e chega ao circuito esta semana (18)

16.01.2018, às 08H36.
Atualizada em 17.01.2018, ÀS 09H02

Primeiro documentário nacional a chegar às telas em 2018, a partir desta quinta, o longa-metragem Saudade foi cercado de elogios em sua passagem pela Mostra de São Paulo, em outubro passado, consagrando a investigação do cineasta Paulo Caldas (Deserto Feliz) sobre a palavra do título, que só existe na língua portuguesa. O filme faz parte de um projeto híbrido que inclui ainda uma série para o canal Arte 1. Foram feitas quase 300 horas de entrevistas, ao redor de três continentes, nas quais Caldas (codiretor do cultuado Baile Perfumado) ouviu cineastas, escritores, poetas, coreógrafas, filósofos, cantoras, atores e fotógrafas sobre o sentimento de banzo, de ausência, de algo perdido.

Barbara Cunha/Facebook/Reprodução

Há depoimentos lúdicos tipo o do ator luso-africano Miguel Hurst, que faz poesia ao pensar sobre o verbete que só existe na Língua Portuguesa, ao citar o aroma de uma comida de sua infância: “O cheiro provoca algo tão vazio quanto as palavras que você não disse”. Bráulio Tavares, escritor, vai no mesmo pretérito de imperfeita perfeição: “Quem vive só para o presente é uma casa sem alicerces”. Na conversa a seguir, Caldas explica o que aprendeu em sua peregrinação pelo mundo:

Omelete: O que Saudade te ensinou sobre as barreiras culturais lusófonas? O que este filme te mostrou sobre o sentimento de banzo?

Paulo Caldas:  A própria palavra Saudade me levou a concluir que nossa língua mãe tem uma sofisticação incrível. O que a torna tão especial é o que ao mesmo tempo a isola culturalmente, nos confinando no gueto lusófono. Sobre o banzo chegamos a uma conclusão inusitada: em Angola, a palavra “saudade” não é conhecida, portanto ela parece ser uma invenção brasileira. Nas filmagens, o escritor Milton Hatoum fez uma alusão à palavra “banzeiro”, muito utilizada na Amazônia pra descrever o desconforto causado pela onda gerada por uma embarcação maior quando cruza com uma canoa. Mas sabemos que o banzo é a saudade que mata, como diz o compositor Lirinha, uma saudade matadeira. 

Omelete: Como foi a logística do filme: que tamanho de equipe; quanto tempo de filmagem; que territórios foram percorridos? 

Paulo Caldas: As filmagens aconteceram num período de três anos, em três continentes - América do Sul (Brasil), África (Angola) e Europa (Portugal e Alemanha) - com uma equipe reduzida, em torno de 12 pessoas. 

Omelete: Você dirigiu um dos documentários seminais do cinema brasileiro dos anos 2000: O Rap do Pequeno Príncipe Contra As Almas Sebosas. Como avalia a situação estética do cinema documental nacional de 2000 para cá?

Paulo Caldas:  Na época que o Rap foi lançado eu costumava falar que o Brasil é o país do samba, do futebol e do documentário, quando a produção de docs ainda era muito menor, mas o potencial enorme. Hoje posso dizer que a frase está ainda mais apropriada, temos inclusive uma renovação de autores de documentário e uma produção com qualidade que se destaca no mundo. Pena que a circulação desses filmes e o público que os assiste não equivale a sua importância e profundidade.

Omelete: Qual é a maior saudade cinéfila da tua vida? 

Paulo Caldas: A maior saudade cinéfila sem dúvida são as conversas com o meu amigo-irmão Feijão (Paulo Jacinto dos Reis), fotógrafo de Baile Perfumado e outros filmes, que morreu em 2011. 

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