Filmes

Entrevista

O Paciente recria as últimas horas de Tancredo Neves em tons de thriller hospitalar

Projeto de Sergio Rezende revive a tensão política do Brasil do fim da ditadura

29.11.2017, às 20H32.
Atualizada em 29.11.2017, ÀS 22H03

Sérgio Rezende esbanja domínio técnico sobre a cartilha do chamado "thriller hospitalar" nos sets do longa-metragem O Paciente, que se difere dos demais exemplares do filão pelo uso em letra maiúscula da palavra “História”. Afinal, o doente em questão é Tancredo Neves (1910-1985).

Em filmagem no Rio de Janeiro, o novo projeto do realizador de O Homem da Capa Preta (1986) traz o mítico ator baiano Othon Bastos (Deus e o Diabo na Terra do Sol) na pele do político mineiro. Ao se tornar o primeiro presidente eleito democraticamente no Brasil, após 21 anos de ditadura militar, Tancredo adoeceu antes da posse e morreu sem chegar ao Planalto. O Omelete visitou uma das locações, na Universidade Santa Úrsula, onde o cineasta recriou a cena de uma antológica foto de seu personagem ao lado da junta médica que cuidou dele.

"Tenho a sensação de que estou fazendo um anti-Tancredo: miro no homem, não no político, pois a vida, neste filme, é mais importante do que a posteridade", diz Bastos no set. "Tancredo era um mineiro clássico no sentido da paciência: atravessou vários momentos políticos do Brasil assumindo um papel de conciliador. E, em seus dias finais, ele está pensando na democracia e não nele mesmo, por acreditar que, se não tomar posse, um novo golpe possa se instaurar no país".

Produzido por sua parceira de cinema e esposa Mariza Leão, Rezende escalou um elenco de alto quilate para encarar a esquadra de médicos que cuida de Tancredo: Emiliano Queiroz, Paulo Betti, Otávio Muller, Eucir de Souza, Leonardo Medeiros e Leonardo Franco. Para viver a mulher de Tancredo, Dona Risoleta, o diretor trouxe a premiada Esther Góes.

"Tenho interesse pelo Brasil e por personagens de nossa História que, apesar de serem caras comuns, viveram trajetórias incomuns, como é o caso desse homem que, depois de 21 anos de regime militar, une o país na esperança pela democracia, durante as Diretas Já, e depois une a nação no desespero, em sua morte", explica Rezende, que visitou importantes fatos históricos em longas como Guerra de Canudos (1997) e Zuzu Angel (2006). "Neste filme, os médicos protagonizam a trama, enquanto Trancredo protagoniza o drama. Existem mil hipóteses conspiratórias em torno da morte dele. Mas houve uma sucessão de erros em torno de sua saúde, a começar pelo fato de ele não ter procurado ajuda médica quando começou a sentir dores, em meio à corrida presidencial".

Com roteiro de Gustavo Liptzein, O Paciente ganha espectros de década de 1980 à força da direção de arte de Marcos Flaksman. Na pesquisa de época, Rezende se pautou no livro homônimo do pesquisador e historiador Luis Mir, que conseguiu ter acesso a documentos do Hospital de Base de Brasília e do Instituto do Coração, em São Paulo, onde Tancredo Neves morreu. "O que estou tentando fazer neste longa é menos cinema e mais realidade, filmando com uma câmera só, sem música, num esquema em que o quadro obedece uma lógica de ‘Siga aquele táxi!’, testemunhando os fatos", diz Rezende. "Não vejo Tancredo como um santo milagroso, mas enxergo nele alguém que serviu como forte inspiração num momento de reconstrução democrática, e que a figura de um conciliador era necessária".

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