Filmes

Entrevista

Festival de Cannes | "O segredo de atuar é entender a respiração dos personagens", diz Marion Cotillard

Atriz francesa estrela o filme de abertura do evento, Os Fantasmas de Ismael, que teve recepção fraca

17.05.2017, às 14H52.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Ainda não recuperada do fracasso retumbante de Assassin’s Creed, Marion Cotilllard, a musa número um do cinema francês na atualidade, pôde curar as feridas abertas pelo desprezo de sua mais recente incursão em Hollywood, durante a projeção de Os Fantasmas de Ismael (Les Fantômes d’Ismael) na abertura do Festival de Cannes, nesta quarta-feira (17), a julgar pela calorosa recepção que teve. O filme, dirigido pelo campeão de bilheteria Arnaud Desplechin (de Reis e Rainha), não teve a mesma acolhida: nem aplauso recebeu na exibição para a imprensa, da qual houve uma debandada considerável, incomodada com a estética de falatório do cineasta. Porém até o mais ferrenho antipatizante do longa-metragem elogiou a oscarizada atriz de Piaf (2007) e de Meia-noite em Paris (2011), que protagoniza uma inquietante cena de nudez, incomum em sua recatada trajetória nas telas.

Este é um filme sobre uma pessoa que busca reencontrar a si mesma antes de rever as pessoas que deseja reencontrar. E isso nos é contado sob o clima de mistério que brota da dramaturgia delicada de Desplechin”, diz Cotillard.

Ela é o motor de Os Fantasmas de Ismaelque estreia nesta quarta (17) no circuito exibidor francês, apoiada no prestigio popular de Desplechin no Velho Mundo. Uma venda de ingressos em torno de 450 mil ou meio milhão de espectadores é uma marca que o diretor esta acostumado a alcançar em sua terra natal, com filmes afetivos sobre personagens nas raias da insanidade, mas sempre cercados por um colo quente, como Três Lembranças da Minha Juventude (2015), seu longa anterior, centrado na doçura. Em seu novo trabalho, definido como um exemplar do chamado “melodrama mauricinho”, a dor é soberana, com raros momentos de riso. Com um roteiro confuso, calcado na metalinguagem, o filme narra os efeitos que o regresso de uma mulher dada como morta por duas décadas tem sobre seus entes queridos. E que mulher mais chave de cadeia é Carlotta, personagem de Cotillard.

O segredo de se viver um personagem que parece um fantasma é entender seu comportamento”, disse a atriz.

Durante 20 anos, o marido de Carlotta, o cineasta Ismael (Mathieu Amalric, quase um alter ego de Desplechin) viveu acreditando na viúvez, crente que Carlota havia morrido. Ele arruma até outra namorada, por quem se apaixona: Sylvia, vivida por Charlotte Gainsbourg. Porém quando Ismael começa um delicado filme de espionagem sobre o herói Ivan Dédalus (Louis Garrel, em grande atuação), Carlotta volta, levando-o a rever um passado de dor e de traições a fio. “Meu filme anterior era guiado pela nostalgia, este é regido pela vida, pois fala de segunda chance”, disse Desplechin.

Há quem diga que o longa foi escolhido para abrir Cannes porque nem Sofia Coppola nem Michel Hazanavicius – ambos em competição este ano; ela com O Estranho Que Nos Amamos, e ele, com Le Redoutable – aceitaram abrir mão de disputar a Palma de Ouro. E há quem diga que o fato de Três Lembranças da Minha Juventude (um sucesso comercial, laureado com importantes prêmios) ter sido esnobado pela competição oficial, há dois anos, pegou mal no Velho Continente. Tudo não passa de especulação. E Marion Cotillard não referendou nenhuma, apenas explicou o segredo de sua (boa) atuação: “A chave de atuar é encontrar e entender a respiração do personagem”.

Cannes segue até 28 de maio, quando o júri presidido por Pedro Almodóvar entrega a Palma de Ouro. O diretor espanhol criou a polêmica do dia, neste inicio de festival, ao se posicionar de maneira critica a presença, em competição de dois filmes da Netflix que não terão carreira em salas de cinema: Okja, de Bong Joon-ho, e The Meyerowitz Stories, de Noah Baumbach. “Enquanto eu seguir vivo, vou defender a experiência que muitos jovens não tiveram que é a sensação de poder assistir um filme em tela grande. O espaço em que a gente vê um filme pela primeira vez não pode fazer parte de nossa mobília”, disse o realizador de Fale Com Ela (2002). Esta noite começa a briga pela Palma de Ouro, com Loveless, de Andrei Zvavintsev.

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