Ocupada neste momento com a finalização de dois filmes nos quais encabeça o elenco - L'Heure de la Sortie e Jumbo –, a parisiense Emmanuelle Bercot, uma das atrizes de maior prestígio hoje no cinema francês, ainda tem questões éticas a responder e debater acerca de seu mais recente trabalho como realizadora: o suspense hospitalar 150 Miligramas. Já lançado em São Paulo, este thriller baseado em fatos chega agora ao Rio de Janeiro – e a uma série de cidades mundo afora - quase um ano depois de ter inaugurado o Festival de San Sebastián, na Espanha.
“No cinema, tudo demora, mas quando uma imagem ganha vida, ela eternaliza uma discussão pela tensão, pelo conflito”, disse a atriz ao Omelete, na cidade espanhola, onde apresentou ao mundo uma heroína de carne e osso, a pneumologista Irène Frachon, vivida pela dinamarquesa Sidse Babett Knudsen. “O cinema de investigação é uma moda eterna nos EUA, mas é um fetiche sazonal na França e em outros países da Europa, onde só ganha vez quando ligado a questões sociais reais, tipo aquelas que diretores como Costa-Gavras filmavam nos anos 1970. Meu trabalho aqui é ir além do espetáculo para chegar à denúncia e ir além da denúncia para ir ao âmago da pessoa que lutou pela ética, como Irène”.
Chamado La Fille de Brest em solo francês, 150 Miligramas recria a luta travada pela Dra. Franchon, de 2009 a 2011, quando ela colocou a própria profissão em risco ao desafiar a indústria farmacêutica do Velho Mundo ao denunciar os efeitos colaterais fatais de uma droga para tratar diabetes. A luta da médica ganha ritmo de suspense na narrativa dirigida por Bercot, conhecida aqui como realizadora por longas como Ela Vai (2013) e De Cabeça Erguida (2015). Elementos típicos dos dramas jurídicos hollywoodianos marcam a produção, que contou com a consultoria da própria Frachon. No filme, ela participa de cenas de exumação e de cirurgias que embrulharam estômagos pelo excesso de realismo – e de vísceras à mostra.
“De uma certa forma, este suspense é também um drama sobre a coletividade e o apoio doméstico, uma vez que os parentes de Irene, sobretudo seu marido, ficaram a seu lado durante todo o inquérito contra a indústria de fármacos da Franca. Meu filme romanceia alguns fatos, mas não a pressão pela qual ela passou”, diz Bercot. “A minha questão com este longa é compreender o lugar da burocracia no âmbito da Lei e saber até que ponto a corrupção institucionalizou-se em meu país”.
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