Evidências do Amor ocupa um lugar curioso no panteão dos filmes inspirados em canções. Embora o subgênero tenha se mostrado surpreendentemente popular no cinema brasileiro recente, tendo em vista Faroeste Caboclo e Eduardo e Mônica, a comédia romântica baseada na canção eternizada pela dupla sertaneja Chitãozinho & Xororó tinha o desafio de extrapolar versos que, apesar de icônicos, não ofereciam muito em sentido narrativo. A saída encontrada pelo diretor e corroteirista Pedro Antonio (Tô Ryca!

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Filmes

Crítica

Evidências do Amor vai além do truque ao contar história de crescimento mútuo

Comédia romântica deixa adaptação do hit sertanejo de lado pela sua boa história de amor

Omelete
3 min de leitura
10.04.2024, às 16H28.
Atualizada em 10.04.2024, ÀS 16H47

Evidências do Amor ocupa um lugar curioso no panteão dos filmes inspirados em canções. Embora o subgênero tenha se mostrado surpreendentemente popular no cinema brasileiro recente, tendo em vista Faroeste Caboclo e Eduardo e Mônica, a comédia romântica baseada na canção eternizada pela dupla sertaneja Chitãozinho & Xororó tinha o desafio de extrapolar versos que, apesar de icônicos, não ofereciam muito em sentido narrativo. A saída encontrada pelo diretor e corroteirista Pedro Antonio (Tô Ryca! 2), então, de certa forma audaciosa, é ignorar o conteúdo da letra e tratá-la antes de mais nada como um fenômeno que de certa forma prescinde da própria canção.

E não é que ele conseguiu? Em Evidências do Amor, Laura (Sandy Leah) termina um namoro de anos com Marco Antônio (Fábio Porchat), deixando o desenvolvedor de aplicativos arrasado e sem saber o motivo da ruptura. Um tempo depois, no entanto, ele começa a viver um fenômeno curioso: toda vez que ouve a canção “Evidências”, que teve papel importante na noite em que o casal se conheceu num karaokê, sua consciência é transportada para o passado e ele revive uma memória ruim do namoro, obrigando-o a reconsiderar se a relação era mesmo tão utópica quanto ele imaginava, e se ele deveria mesmo ter ficado tão surpreso com o término.

A premissa abre espaço para o roteiro brincar com a ubiquidade de “Evidências” na rotina brasileira, com o exagero permissivo das comédias escrachadas, mas também permite que Antonio e seus corroteiristas (Alvaro Campos e Luanna Guimarães, ambos ex-colaboradores do cineasta) tratem a canção exclusivamente assim, como fenômeno cultural. A tomada de consciência de Marco sobre as rachaduras que sempre estiveram ali, mal disfarçadas pelo apego óbvio que o casal tinha um pelo outro, não tem nada a ver com a história cantada por Chitãozinho & Xororó - mas composta por José Augusto e Paulo Sérgio Valle, como o filme nos lembra algumas vezes.

Como fica ainda mais claro com uma reviravolta lá no terceiro ato, a intenção narrativa de Evidências do Amor é muito mais montar uma história clássica de crescimento mútuo através do afeto do que dramatizar as palavras não ditas e contradições escondidas de “Evidências”. E pode ser que a trama em si não se conecte muito bem com o tributo à canção, pela qual o filme aposta que o espectador nutre grande carinho - assim como talvez o tecido conectivo dos momentos cômicos mais rasgados com os toques de sinceridade entre o casal e suas famílias não esteja ali. Mas, no fim das coisas, a junção de todas essas coisas feitas de forma eminentemente competente não é desagradável.

De suas partes, Porchat e Sandy fazem o melhor que podem para vender seus personagens como figuras pelas quais vale a pena torcer. O ator, sempre adepto a modular as neuroses do seu ato cômico para se posicionar como o “sujeito comum”, com uma pitada de humor físico e um pouco mais do que uma pitada de transparência emocional, serve também como baliza para a aura de superestrela de Sandy. De certa forma, ela tem mais a provar do que ele - a sua escalação aqui é muito mais um truque de marketing, a partir do seu parentesco com o hit sertanejo, do que qualquer outra coisa. Se o desafio era entregar uma performance que servisse à história e fizesse esquecer o truque, no entanto, Sandy pode se considerar bem-sucedida.

E talvez essa seja mesmo a medida geral do sucesso de Evidências do Amor, como comédia romântica. Como os próprios protagonistas constatam durante a trama, “Evidências”, a canção, é uma sombra gigantesca, quase inescapável, no campo da cultura pop nacional. O filme e sua história de amor serem capazes de se justificarem para além dessa sombra já é uma vitória que parecia improvável.

Nota do Crítico
Bom
Evidências do Amor
Evidências do Amor

Ano: 2024

País: Brasil

Duração: 105 min

Direção: Pedro Antônio

Roteiro: Pedro Antônio, Alvaro Campos, Luanna Guimarães

Elenco: Sandy Leah, Fábio Porchat, Evelyn Castro

Onde assistir:
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