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Netflix aumenta aposta na produção nacional - e isso é bom para todo mundo

Serviço de streaming lançou O Matador, seu primeiro filme original feito no país

10.11.2017, às 20H18.
Atualizada em 10.11.2017, ÀS 21H21

A Netflix chegou ao Brasil em 2011, quando iniciou suas atividades na América Latina e no Caribe. Mesmo com um catálogo limitado na época, o serviço de streaming se popularizou no país, principalmente por conta de seu valor acessível e sua plataforma de vídeo, que consegue se adequar à limitada velocidade da internet brasileira.

Com o tempo, a quantidade de filmes e séries aumentou e a empresa fez uma aposta ousada para os serviços de streaming da época: fazer produções originais. Ao invés de ser apenas um site para transmitir filmes e séries, a Netflix pensou alto e se tornou uma produtora de conteúdos próprios. Na prática isso significou vários erros e acertos, mas o saldo final foi positivo e a empresa expandiu o investimento para outros países, incluindo o Brasil. O primeiro produto feito por aqui foi 3%, série distópica baseada em um episódio piloto divulgado no YouTube.

Depois de apostar também nos documentários com Laerte-se, o streaming anunciou sua esperada entrada no mercado do cinema nacional com O Matador, longa criado por Marcelo Galvão e protagonizado por Diogo Morgado. Em entrevista ao Omelete, Galvão afirma que pensou em fazer um faroeste no Brasil para se afastar de outros gêneros mais explorados no cinema e fez muita pesquisa para recriar o interior do país entre 1910 e 1940:

“Já tinha feito drama, comédia, um road movie e agora eu queria fazer uma ação. E dentro disso já tinham feito muitas coisas com favela, etc., e eu pensei em explorar o cangaço, fazer um faroeste brasileiro. Eu quis fazer um filme inédito, com tema bem brasileiro, mas com uma nova roupagem, uma forma mais ‘pop’ de contar essa história. Um ano antes das filmagens eu fiquei 15 dias visitando todo o interior do nordeste, fui para vários lugares onde o cangaço passou e resolvi fazer ali”.

Já disponível na plataforma, o longa acompanha a história de Cabeleira (Morgado), um temido matador do Pernambuco que foi criado no sertão pelo cangaceiro Sete Orelhas (Deto Montenegro), completamente isolado da civilização. Só pela sinopse é possível perceber que a empresa aposta em conteúdos que tenham alguma ligação com a cultura de cada país. Antes de chegar à plataforma, o filme também foi premiado no Festival de Gramado, como Melhor Fotografia e Melhor Trilha Sonora. Porém, apesar de todo esse ambiente positivo, alguns ainda olham com desconfiança para as produções feitas por um serviço de streaming.

“Aqui no Brasil você produz filmes, 90% deles não vão para os cinemas, dos que vão, a maioria sai de cartaz nas primeiras duas semanas. É triste. Já me perguntaram como é fazer um filme que não é uma película, que não vai passar na tela grande. As pessoas falam sem pensar. Para mim, não deixa de ser cinema por isso”, completa.

Em maio deste ano, a discussão de streaming x estúdios tradicionais chegou ao Festival de Cannes e gerou repercussão até no Oscar, que vai avaliar como as produções da empresa poderão entrar na disputa por uma estatueta. Com tudo isso, fica claro que o sucesso da Netflix como produtora faz diferença no mercado e incomoda os estúdios tradicionais. Porém, como toda situação em que a concorrência é livre, ter mais uma empresa oferecendo produtos é bom tanto para o consumidor, quanto para os profissionais.

Pegando 3% como exemplo, a ideia da história já existia há algum tempo como uma websérie e talvez nenhuma emissora tradicional se interessasse em produzir uma série completa, que já está com sua segunda temporada confirmada. Quando aposta em um formato diferente dessa forma e tem sucesso, a Netflix faz com que canais tradicionais repensem seus modelos de produções.

Além de mais opções de entretenimento para o público, um novo investimento em produções no país significa uma melhora no mercado de trabalho do audiovisual. Para quem se forma na área, as opções costumam ser canais tradicionais, produtoras independentes e, quando nada disso dá certo, muitos trabalham com publicidade. Um filme como O Matador, que precisou de uma grande equipe para as cenas rodadas no nordeste do país, gera mais oportunidades nesse sentido e os profissionais de edição, fotografia, trilha sonora, atuação, etc. veem seu trabalho projetado para vários países, já que todas as produções originais Netflix são divulgadas na plataforma como um todo. Outra oportunidade que surge com isso é o sucesso internacional, que a própria 3% conseguiu em sua primeira temporada. Dublado e legendado em inglês, o seriado se tornou "o primeiro programa televisivo em português a ganhar importância além da América Latina e Portugal", segundo a própria empresa.

Streamings por todos os lados

Se o público ganha com as produções originais, elas também são vantajosas para o streaming, apesar do alto investimento. Depois do sucesso da Netflix, várias emissoras começaram a apostar em serviços semelhantes, o que pouco a pouco diminui as opções de um catálogo mais amplo. Isso aconteceu com a HBO - grande motivo pelo qual Game of Thrones nunca estará na Netflix - e começa a tomar forma agora com a Disney, que anunciou seu streaming para 2019 e terá produções de Star Wars, Marvel e High School Musical exclusivas para a plataforma. Ao ter seus próprios filmes e séries, a empresa não precisa se preocupar com licenciamentos e negociações que muitas vezes tiram de seu catálogo obras queridas do público, como aconteceu com os brasileiros este ano com How I Met Your Mother.

No final, o que a Netflix e todas as organizações querem é manter o público dentro de suas plataformas o maior tempo possível e isso demanda uma quantidade diversa de conteúdos. Para o futuro, a empresa tem pelo menos quatro grandes projetos no país: a segunda temporada de 3%; a série O Mecanismo, criada por José Padilha e estrelada por Selton Mello; Samantha!, uma sitcom com Emmanuelle Araújo e Douglas Silva e Coisa Mais Linda, série que mostrará o Brasil entre as décadas de 50 e 60, quando aconteceu a revolução cultural da Bossa Nova no Rio de Janeiro. Em um evento recente, também afirmou aos produtores brasileiros que pretende produzir 20 séries por ano no Brasil, número distante até mesmo das novelas, um dos produtos mais populares do país.

Se tudo continuar assim, a tendência é que o audiovisual brasileiro se desenvolva cada vez mais, não apenas financeiramente, mas também criativamente, mostrando todo o seu potencial para o mundo.

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