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Festival de Cannes | Filme sobre petróleo brasileiro e corrupção vira assunto do evento

La Cordillera, com Ricardo Darín, recebeu aplausos calorosos

24.05.2017, às 12H06.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Em nenhum momento dos 114 febris minutos de La Cordillera se fala o nome da Petrobrás, mas é o petróleo brasileiro que serve de combustível às negociatas políticas retratadas neste thriller moral e cívico com Ricardo Darín, que marca um gol da Argentina em Cannes. Pergunta-se por todos os cantos da Croisette (e em muitas línguas) por que o filme de Santiago Mitre não está em disputa pela Palma.

Incluído na mostra paralela e também competitiva Un Certain Regard (que em 2016 nos revelou dois indicados ao Oscar: A Qualquer Custo e Capitão Fantástico), esta produção pilotada pelo diretor do premiado Paulina (2015) foi aplaudida com fervor ao fim de sua projeção e virou papo de corredor entre os latinos presentes. Nela, o Brasil - na figura do presidente Oliveira Prete, vivivo com uma ironia saborosa pelo ator Leonardo Franco, da série Preamar - é o alvo e o inimigo de todos, menos no líder da Argentina, Hernán Blanco. E este papel ficou nas mãos de Darín, ímã de elogios no festival. 

"Não sei direito ainda que filme eu fiz, mas sei que tentei retatar questões políticas confusas para o nosso continente a partir de um líder político com dilemas pessoais", disse Mitre por email ao Omelete.
 
Diálogos dele, como "o Diabo não existe; negócios sujos, sim" fizeram Cannes rir em peso. Esta noite (24), o diretor estará no evento com Darín e com sua mulher, a atriz Dolores Fonzi, para a exibição oficial de La Cordillera, encarado desde já como o mais vigoroso dos filmes de origem hipânica nesta 70ª edição do evento. E já há quem o defina como uma potencial aposta para o Oscar de 2018. A presença luminosa de Christian Slater (Mr. Robot) como um emissário da Casa Branca - sórdido até a medula - pode ajudar nisso. É ele quem vem enredar o personagem de Darín, que dá nome ao filme na França: por lá o título será El Presidente, em espanhol mesmo "Eu tento sempre escolher papéis que reflitam a realidade social das nações latinas", disse Darín num papo com o Omelete em meio às filmagens, em agosto de 2016.
 
Na trama,  Dolores vive a filha de Blanco, que entra numa crise nervosa no momento em que o presidente argentino participa de um conclave de presidentes latinos no Chile para decidir se é viável ou não a criação de uma multinacional, a Aliança Petroleia do Sul. E a ideia parte do Brasil, o que irrita o presidente do México (vivido por Daniel Giménez Cacho) e exige ações dos Estados Unidos. 
"O presidente do Brasil é um ponta de lança nessa negociação e todos vão tentar tirá-lo do primeiro plano", disse Franco, por telefone ao Omelete.
 
Neste dia em que O Estranho Que Nós Amamos silenciou as certezas de Cannes na briga pela Palma, só La Cordillera causou tanto impacto no balneário, mostrando a constante renovação dramatúrgica do cinema argentino.
 

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