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Os sedutores lábios de Ultron

“Estamos lutando contra um exército de robôs... e eu tenho um arco-e-flecha.” – Arqueiro Verde, em Vingadores 2

05.05.2015, às 17H30.
Atualizada em 25.11.2016, ÀS 16H02

Vingadores: Era de Ultron ultrapassa os conceitos que a mente humana compreende como “filme”, ou mesmo “arte”.

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Abrindo com uma espetacular sequência de invasão ao castelo Wolfenstein, a película nos reapresenta os Vingadores em uma missão suicida para recuperar a manopla de Darkseid (vilão introduzido em Guardiões da Galáxia). A partir daí somos introduzidos a uma trama complexa e inteligente, contada com maestria através das 4 horas e meia do longa-metragem. A sinergia do grupo – retratada através dos geniais planos em câmera lenta do vanguardista diretor Joss Whedon (de Buffy, a caça vampiros) – projeta a desconstrução do sonho americano de forma bombástica, utilizando-se do olhar do estrangeiro como ferramenta de julgamento. A introdução do Homem-Aranha no grupo (com Tobey Maguire retornando ao papel que o consagrou no cinema) apenas auxilia no ressaltar da mensagem, graças a seu tradicional uniforme azul e vermelho.

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E é precisamente no uso dos personagens que o brilho do longa-metragem se comprova: Chris Hemsworth, através de interpretação avassaladora, resgata o sabor shakespeariano trabalhado em seu filme solo, realizando um diálogo de tirar o fôlego contra seu pai no Olimpo. Já Mark Ruffalo transforma Hulk em um simbolismo do planeta Terra; forte e verde, porém frágil perante a maldade do homem. Scarlett Johansson (única atriz contratada do filme) faz de Viúva Negra a Maria Madalena contemporânea, revelando na roupa preta a expressão fúnebre da guerra dos sexos.

O vilão Ultron – interpretado graças a tecnologia de captura de movimentos pelo comediante Will Ferrell (dublado na versão nacional por Luciano Huck) – rouba o filme sempre que surge em tela. Enquanto seus maneirismos são uma alusão clara ao gênio Charles Chaplin, ressaltando a plasticidade do cinema blockbuster, seus lábios robóticos representam a objetificação do sexo no mundo artístico, em mais uma crítica audaciosa do diretor.

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Outra novidade fica pela apresentação de um novo herói: o mago Visão. O personagem, por sua vez, simboliza de maneira sutil a internet: fria e sarcástica, ainda que inocente em suas opiniões.

Lamentavelmente, nem tudo funciona em Era de Ultron. A substituição do ator Robert Downey Jr. por uma cópia gerada por computador parece falsa, principalmente quando nos planos mais próximos. A batalha entre Hulk e Optimus Prime em Marte também parece desnecessária, servindo apenas como fanfare e atrasando o desenvolver da história.

Ainda assim, a obra sobrevive vitoriosa; afinal de contas, Vingadores: Era de Ultron é, em sua essência, uma crítica à vaidade norte-americana e ao consumismo padronizado (ou “robotizado”, por assim dizer). Sua cinematografia será estudada por décadas, redefinindo paradigmas e estabelecendo novos patamares em uma indústria que está se redescobrindo sob a sombra das capas esvoaçantes dos Super-Heróis.

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Affonso Solano é cocriador do Matando Robôs Gigantes, escritor do livro O Espadachim de Carvão e tem um canal no YouTube chamado Hora Super

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