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Que Horas Ela Volta? | "O mundo olha para este filme tentando entender o Brasil pós-Lula", diz Anna Muylaert

Filme é exibido em sessão hors-concours no Festival de Gramado

09.08.2015, às 11H14.

Fenômeno no exterior, desde que passou pelos Festivais de Sundance e de Berlim, Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert, abriu na noite de sexta-feira a 43ª edição do Festival de Gramado, iniciada sob o bafo de uma temperatura mais alta do que a Serra Gaúcha costuma sentir nesta época do ano.

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A passagem do filme por Gramado se deu hors-concours, às vésperas de sua estreia em circuito no próximo dia 27. Vendido para 22 países, o longa-metragem mais recente da realizadora de Durval Discos (2002) vendeu 150 mil ingressos na França, 70 mil na Itália e 40 mil na Espanha, o que lhe rendeu atenção na Europa. Já se especulam potenciais indicações para o Globo de Ouro e para o Oscar para este ensaio sobre "a arquitetura dos afetos" a partir de relações de uma empregada doméstica, sua filha e seus patrões.

Que Horas Ela Volta? | Da Frigideira

"O mundo olha para este filme tentando entender o Brasil pós-Lula", diz Anna Muylaert em Gramado. "A gente mostra o Brasil a partir da cozinha, num trabalho onde todos os envolvidos buscaram o lugar da realidade."

Amparado por uma montagem primorosa, que administra afetividades distintas, cozinhando um clima de tensão onde a interação dos personagens parece pender para uma erupção, Que Horas Ela Volta? assume como eixo de reflexão sobre o Brasil um casarão de alta classe média de São Paulo. Nela, a pernambucana Val (uma Regina Casé devastadora) trabalha como empregada há mais de uma década, no papel de babá de um adolescente, Fabinho (Michel Joelsas). O patrão é um artista plástico nascido em berço esplêndido, Carlos (o quadrinista e escritor Lourenço Mutarelli) e a patroa, uma expert em moda deslumbrada com sua ascensão social, Bárbara (Karine Teles, num show de vilania). A harmonia entre eles se desarranja quando a filha de Val, Jéssica (Camila Mádila), chega de Pernambuco para prestar arquitetura. Ao se instalar na casa de Bárbara e Carlos, ela vai embaralhar valores que estavam enferrujados.

"Desde a nossa colonização, vivemos a lógica de que o ócio faz o negócio. Isso é uma raiz. Por conforto, confia-se ao outro um trabalho que é nosso. O filme discute esta questão, tendo nascido há 20 anos, no momento em que fui mãe e deparei com o tamanho da função da maternidade", diz Anna Muylaert, comemorando a trajetória de prestígio popular de Que Horas Ela Volta? mundo afora. "Já estreamos em cinco países e abrimos nos Estados Unidos no mesmo dia da estreia no Brasil."

Famosa por sua carpintaria de roteiro capaz de valorizar o mistério, Anna Muylaert entrega agora um trabalho no qual a força visual é tão grande quando sua destreza de script. O modo sinuoso como a câmera da fotógrafa Bárbara Alvarez desliza pelo quadro, sempre silenciosa, sem causar alardes bruscos, permite que a cineasta flagre toda a instabilidade emocional dos elementos que gravitam em torno de Val. O destaque vai para a mecânica naturalista de Lourenço Mutarelli, fazendo de Carlos um corpo fragilizado, dependente de goladas geladas e gaseificadas de guaraná, capaz de dançar nas franjas do patético sem cair no ridículo.

Neste sábado, o festival gaudério ofereceu o troféu Cidade de Gramado a um dos maiores campeões de bilheteria da América Latina: o cineasta Daniel Filho, realizador de Se Eu Fosse Você (2006) e outros sucessos. Na sequência, a cidade conferiu o thriller uruguaio Zanahoria, premiado no Festival de Huelva, na Espanha, em 2014, por seu ritmo de filme de espionagem à moda da Guerra Fria. O dia fechou com uma pérola brasileira ainda inédita: Introdução à Música do Sangue, um drama rodado em Minas Gerais pelo carioca Luiz Carlos Lacerda com base em um argumento inédito do escritor Lúcio Cardoso (1913-1968). A história de um casal de idosos que criam uma adolescente com os hormônios em flor em uma estância do interior mineiro promete explodir na tela à força de seu protagonista: Ney Latorraca, numa das melhores atuações de uma carreira aclamada. A conferir.

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